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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

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Crises econômicas se mostram cíclicas; veja histórias das turbulências

Crises no mercado financeiro tendem a repetir um padrão: boatos sobre altos preços de um bem --que podem ser de ações a tulipas-- atraem especuladores; contratos futuros e linhas de crédito de instituições financeiras alimentam a onda especulativa; ao menor sinal de que os preços vão cair, a profecia se autorrealiza: o mercado desaba, contratos são ignorados e uma crise em geral se segue.


Veja a seguir algumas das principais crise que já abalaram o mundo das finanças, em diversos períodos.

Mania das Tulipas

Surgiu na República Holandesa (hoje a Holanda) no início do século 17. As tulipas foram associadas desde a riqueza e no início do século os preços de variedades mais exóticas alcançaram altos preços --uma semper augustus chegou a ser vendida por 1.200 florins, o que na época bastava para comprar um sobrado, mesmo em um mercado imobiliário também valorizado. Um salário anual médio na Holanda ficava em torno de 200 e 400 florins.

A mania teve início perto de 1624, com rumores de altos preços das plantas, que atraíram pessoas de diversas ocupações. O período de maior especulação se concentrou entre o fim de 1636 e o início de 1637 --nesse período, nenhum bulbo da planta foi de fato entregue. Eles seriam entregues apenas na primavera seguinte (outono no Brasil).

Em 1637 o mercado de tulipas quebrou. Com a proximidade dos prazos de entrega, os especuladores não encontraram mais compradores e logo as plantas perderam praticamente todo o valor. A economia, no entanto, não entrou em colapso.

Era dos Projetos

Teve início na década de 1690, na Inglaterra, período em que surgiram diversas inovações financeiras no país --como o Banco da Inglaterra (banco central do país) e legislações específicas para notas do Tesouro e notas promissórias. O período foi caracterizado por grande prosperidade, com crédito disponível e desempenho positivo no comércio exterior e na agricultura.

Com capital disponível, surgiu uma onda de abertura de empresas --ou "lançamento de projetos"--, com emissão de ações. As empresas se propunham às atividades mais diversas --de iluminação pública a caça a tesouros. O governo inglês chegou a criar loterias, para aproveitar o desejo de "investir" de quem não tinha dinheiro para comprar ações.

Os gastos com a guerra que a Inglaterra travava com a França, no entanto, levou o governo inglês a desvalorizar sua moeda para arcar com as dívidas. A medida afetou os preços das ações e o mercado quebrou em 1697. De 140 empresas abertas na Inglaterra e na Escócia em 1693, apenas 40 resistiram à crise.

South Sea

A South Sea Company foi criada em 1711 na Inglaterra para assumir 10 milhões de libras de títulos da dívida do governo inglês. Esses papéis foram convertidos em ações, e a empresa ainda passou a receber um pagamento de juros do governo. O esquema da empresa dependia de inflar o preço da ação, para ampliar os ganhos, de modo a pagar pelos títulos do governo e ampliar ao máximo os ganhos dos acionistas.

O preço da ação passou de 128 libras no início de 1720 a 187 libras em fevereiro do mesmo ano. Em junho, atingiu o pico de 1.050 libras. O esquema beneficiava o governo e os acionistas, e por isso teve margem para continuar a se desenvolver, com novas emissões de ações. Mas a South Sea teve de competir com centenas de companhias criadas para aproveitar o ímpeto dos especuladores.

Pouco depois de chegar ao pico, problemas legais com outras companhias de ações afetaram a credibilidade no mercado e os investidores correram para vender seus papéis, incluindo os da South Sea. Com o pânico, o preço da ação da empresa chegou a 200 libras em outubro.

América do Sul e mineração

Na década de 1820, os banqueiros ingleses procuravam novas formas de investir, depois que a demanda por empréstimos caiu com o fim da guerra contra a França e a derrota de Napoleão Bonaparte. Surgiu então a onda de empréstimos a países da América do Sul, que estavam se tornando independentes e precisavam de capital --entre eles Colômbia, Chile, Peru e Brasil.

Os empréstimos, no entanto, não voltavam aos cofres britânicos, então os investidores passaram a se interessar pelas reservas de ouro sul-americanas e houve um "boom" de investimentos em mineração. O volume de recursos oferecidos para especulação, no entanto, começou a comprometer as reservas do Banco da Inglaterra, que restringiu o acesso ao crédito em 1825. Naquele ano, com mais de 19 milhões de libras em papel moeda em circulação, o banco tinha 4 milhões de libras em reservas de ouro, e que no mesmo ano chegariam a encolher para 1 milhão.

Em 1826 a economia da Inglaterra entrou em depressão, com aumento de falências, queda de produção e desemprego crescente. Historiadores apontam a mania desse período como o início da vinculação de crises financeiras originadas de manias especulativas e os ciclos econômicos.

Mania das Ferrovias

Houve uma mania de investimentos em construção de ferrovias em 1825, que teve vida curta --a crise de 1826, após a mania dos investimentos em títulos sul-americanos e mineração, comprometeu a economia e novos investimentos.

Em 1831, no entanto, foi inaugurada a Liverpool and Manchester Railway, que despertou otimismo quanto à possibilidade de reduzir o tempo de viagem dentro do país e à nova oportunidade de investimento. Entre 1836 e 1837 a Inglaterra viveu outro período de "boom" e queda.

Entre 1844 e 1847 houve outro episódio. Em agosto de 1848 a estimativa de perdas com ações de ferrovias era de 230 milhões de libras.

"Era Dourada"

O período entre o pós-Guerra Civil nos Estados Unidos (1861-1865) e o início do século 20 foi marcado por grande prosperidade e desenvolvimento. O nome "Era Dourada" vem do livro de Mark Twain e Charles Dudley Warner, de 1873. São dessa época nomes que ficaram gravados na história das finanças dos EUA: John Pierpont Morgan, Cornelius Vanderbilt, Andrew Carnegie, Jay Gould e John Rockefeller, entre outros.

As oportunidades de investimentos abertas pela tarefa de reconstrução do país após a guerra atraíram o interesse de especuladores. A Lei de Emissão de Moeda de 1962 irrigou a economia com dinheiro e crédito e atraiu especuladores em diversas áreas, de telégrafo e ferrovias a mineração, petróleo e armas para o Exército.

Dois episódios merecem destaque nesse período: o pânico no mercado de ouro em setembro de 1869, e a falência do banco Jay Cooke & Co. em 1873 --a quebra da instituição fez com que a Bolsa de Nova York fechasse no dia 20 daquele ano e permanecesse assim por dez dias. Os excessos especulativos que culminaram com a quebra do banco levaram a uma recessão que durou de outubro de 1873 a março de 1879, segundo o Nber (Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, na sigla em inglês), que avalia quando recessões começam e acabam nos EUA.
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