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Quinta-feira, 02 de maio de 2024

Notícias | Cultura

‘Pixo’ revela o universo da pichação e propõe novo olhar sobre São Paulo

“A gente espera que as pessoas possam olhar a cidade com outros olhos.” Foi com essa proposta que o fotógrafo João Wainer abriu a primeira sessão de “Pixo”, em cartaz na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Ao lado do irmão, Roberto T. Oliveira, diretor de videoclipes, ele lança seu primeiro longa-metragem, que revela o universo da pichação paulistana e expõe seus bastidores.


Nem o mais distraído dos seres vivos consegue circular por São Paulo e não perceber o que os pichadores chamam apenas de “pixo” –letras geométricas, muitas vezes ilegíveis a olhos destreinados, espalhadas pelos lugares mais inusitados, de muros a topos de prédios, de preferência em pontos de grande circulação e destaque. “A gente se interessou naturalmente [pelo tema]. Nunca consegui entender o que eles escreviam. O João sempre diz que ele se sentia passeando pela China sem entender chinês”, conta Oliveira.

Por meio de um amigo em comum, a dupla conheceu o ex-pichador Djan, que se dedica a registrar a ação dos amigos “rabiscando” cidade adentro. Dono de grande acervo sobre pixo, Djan tinha a vontade de fazer com que seus filmes chegassem a um público maior, e se uniu aos irmãos na criação do longa-metragem. Foi ele também quem introduziu os dois no mundo restrito da pichação, fazendo com que conseguissem acompanhar algumas ousadas aventuras dos pichadores pelos prédios da capital.

“Ficávamos as madrugadas em ‘stand by’, com o celular sempre ligado. Passamos a frequentar o point, que é a festa em que eles se encontram. Você precisa estar inserido no meio deles para conseguir gravar e ser espontâneo. Isso, de outra forma, levaria cinco anos. O Djan economizou esse tempo para a gente”, conta Oliveira.

Num dos momentos mais tensos do longa, três pichadores escalam um prédio do centro da cidade. Sem proteção, sem medo aparente. A câmera registra tudo lá de baixo. Um microfone capta a conversa. Um dos meninos diz que está cansado e não aguenta mais subir. Mesmo assim, se pendura no próximo parapeito, e parece que não vai conseguir até que outro chega para ajudá-lo. “Eu estava com o fone de ouvido e fiquei com medo. Era óbvio que ele não estava preparado para fazer aquilo. Nos preocupamos em não colocá-los em risco, por isso tem apenas duas escaladas perigosas no filme”, conta Oliveira.

E continua: “Esse microfone correu muito risco. Foi até preso [risos]. Dos três que estavam fazendo a escalada, dois escaparam e um foi preso, justamente o que estava com o microfone. Ele disse para o policial que era um radinho que a avó dele tinha dado, e o cara devolveu”.

“Pixo” mostra ainda as origens da pichação paulista e sua ligação com o heavy metal, reúne depoimentos essenciais de quem participa do movimento, mostra as rixas entre grupos rivais e acompanha duas ações que ganharam repercussão: a pichação da Bienal e a da Faculdade de Belas Artes.

Tudo ao som de muito rap, de Sabotage à voz inconfundível de Mano Brown –mesmo que apenas com um ‘Hei, São Paulo’ quase imperceptível, mas suficiente para a mente seguir, em silêncio, “terra de arranha-céu, a garoa rasga a carne, é a Torre de Babel”.
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