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Sábado, 11 de maio de 2024

Notícias | Brasil

Moradores de rua invadem casarão centenário em SP

No que depender da moradora de rua Amanda Teles Virgilata, 24, sua filha de um ano e quatro meses, Vitória, vai ser miniapresentadora de TV. "Sabe essas menininhas que aparecem nos programas pra crianças? Quero muito que ela faça algo assim", diz Amanda, grávida de seis meses.


Moradora de rua, não. Amanda agora habita um casarão de 1925, tombado pelo patrimônio histórico municipal (Conpresp), com 400 m2, na rua Marquês de Paranaguá, Consolação (zona central). Ela e cerca de 25 pessoas. O metro quadrado na região vale R$ 2.500, segundo a empresa de engenharia Amaral D'Ávila.

Por dentro, a construção de pé direito alto foi repartida em mais de dez cômodos. Como divisórias, há compensados de madeira ("paredes") e cobertores pendurados ("portas"). A não ser pela claridade que entra pelos janelões, há poucas lâmpadas -a eletricidade foi puxada da rua por "gatos".

Muita história

Quem recebe, à porta do casarão, é Thais Michelle, ex-auxiliar de limpeza, e Lilian Alexandra, que pede dinheiro na rua: "Isso aqui tem é história", dizem as duas, rindo. Thaís, Lilian e Amanda brigam pelo catador de latas William Jesus Faria, 25, que se desdobra entre as três, e a quem elas atribuem a paternidade de seus respectivos filhos. Ele divide um "quarto" com Leo Barbosa, 26, e Márcio Santos, 25, ambos desempregados.

A maior parte dos atuais moradores -o rodízio é grande- viviam na praça Roosevelt (centro), foi trazida pelo "finado Vitor", viciado em crack, casado com Juliana de Souza, que tem um filho dele e já trabalhou como operadora de telemarketing, mas foi demitida porque respondia com palavrões aos assédios dos interlocutores: "Você precisava ver as besteiras que os homens diziam pra gente no telefone. Eu xingava mesmo", diz.

Presente dos noia

No quarto de Thaís e Lilian, de cerca de 12 m2, Amanda conta que ganhou o carrinho de bebê de Vitória de um "noia" que morava embaixo do Minhocão.

"Quando você tá no vício, ganha uma porção de presente. Mas graças a Deus abandonei a droga." Ela diz que sua mãe é cabeleireira na Espanha e que não foi junto porque considera a família "muito gananciosa".

Ali ao lado, no quarto de William, há três colchões com cobertas reviradas, um móvel improvisado com tábuas, decorado com garrafas de vodca vazias; um quadro colorido de Cosme e Damião, muita roupa espalhada: o rádio toca um pagode. Eles riem quando se pergunta quem é o pai das crianças que engatinham pela casa. "É dele aí", diz Márcio, na direção de William. "Meu nada."

Desapegados

Embora o clima na casa seja parecido com o de um cortiço, os moradores, mesmo as que engravidam, sabem pouco mais que os nomes uns dos outros - e se mostram desapegados como todos os nômades. "Estou aqui há quatro anos e seis meses, já vi muita coisa acontecer, de vez em quando baixa a polícia, mas a gente vai ficando", conta Juliana.

Os vizinhos não ajudam? "Só se for chamando o caminhão pra levar a gente embora", diz.

Sônia Alberane, gerente do hotel que fica ao lado do imóvel, diz que dá sacos para que eles empacotem o lixo e chegou a doar colchões que não ia mais usar. "Já chamei a vigilância sanitária várias vezes para dedetizar contra dengue, ratos e baratas", diz ela.

As moças da casa dão sua versão: "Ela não doou os colchões. Ela jogou fora. Nós fomos lá e pegamos."
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