O Kremlin poderia ter começado a Terceira Guerra Mundial em 1989 se tivesse enviado tropas para esmagar as manifestações que precederam a queda do Muro de Berlim, disse na terça-feira o ex-líder soviético Mikhail Gorbachev.
Gorbachev é elogiado no Ocidente por ter ignorado os linha-duras do regime, que o aconselharam a garantir o futuro da União Soviética esmagando a crescente onda de dissidentes nos países comunistas do Leste Europeu. Essas manifestações levaram à queda do Muro de Berlim em 9 de novembro de 1989.
Quando um repórter perguntou por que ele não usou a força para deter as manifestações, Gorbachev respondeu que isso teria desencadeado uma sequência catastrófica de eventos e mesmo uma guerra mundial.
"Se fosse pelo desejo da União Soviética, não haveria nada do tipo (a queda do Muro) nem a unificação alemã. Mas o que teria acontecido? Uma catástrofe ou a Terceira Guerra Mundial", disse Gorbachev, de 78 anos.
"Minha política era aberta e sincera, uma política com o objetivo de usar a democracia e não derramar sangue. Mas isso me custou muito caro, posso lhe dizer", afirmou ele.
A maioria dos russos despreza Gorbachev por sua fraqueza em permitir o colapso da União Soviética e a perda do império russo. Uma pesquisa feita no ano passado mostrou que 60 por cento dos russos ainda enxergam a ruína da União Soviética como uma "tragédia".
Milhares de alemães orientais atravessaram o Muro para Berlim Ocidental em novembro de 1989, depois que as autoridades da Alemanha Oriental, que eram apoiadas pelos soviéticos, inesperadamente ordenaram a abertura dos pontos de travessia no Muro, antes fortemente protegidos.
Gorbachev poderia ter recorrido a quase meio milhão de soldados soviéticos estacionados na Alemanha Oriental para esmagar a rebelião. Ele disse ironicamente aos repórteres que teve "uma boa noite de sono" depois que o Muro caiu.
A queda do Muro de Berlim - um símbolo da Guerra Fria que dividia a Europa - foi um dos pregos no caixão da União Soviética, que desmoronou em 1991.