Para os admiradores do Ford Focus e seus clientes fiéis que esperavam pela estréia de sua nova geração, é inegável que o lançamento do hatch sem o motor flex em 2008 repercutiu como um balde de água fria ao seu séquito. Mesmo sabendo disso, a fabricante alegou atraso no processo de adaptação do bloco 2.0 Duratec – também utilizado no EcoSport – para que o mesmo também aceitasse álcool no Focus. Contudo, a Ford prometeu que no prazo de um ano seu aclamado modelo passaria a rodar com o combustível vegetal.

Após três meses além do tempo estipulado, a marca cumpriu sua promessa e lançou na última quinta-feira (17) o Ford Focus 1.6 Flex, que também inaugura a nova gama de propulsores Sigma no Brasil, a qual tem como principal destaque a construção completa do motor em alumínio, incluindo pistões. “Nós optamos por complementar a linha Focus, por isso estamos lançando o 1.6 antes do 2.0, que chegará em breve”, explicou Adriana Carradori, gerente de marketing da Ford. Dessa forma, o Focus fica em pé de igualdade, principalmente em preço, para concorrer com Volkswagen Golf, Citroën C4 e Peugeot 307 em suas versões de entrada.

Por falar em preço, a Ford preparou uma estratégia agressiva para alavancar as vendas do seu representante no segmento. Por R$ 49 900 o Focus GL já vem praticamente completo: airbag duplo, ar-condicionado, alarme, direção hidráulica, volante revestido em couro, computador de bordo, sistema de som com 6 alto-falantes capaz de reproduzir arquivos MP3, trio elétrico, regulagem de altura dos faróis e rodas de liga leve 16” figuram entre os principais itens. Acima desse catálogo,a opção GLX agrega ao pacote vidros elétricos traseiros, descansa-braço central e maçanetas e retrovisores pintados na cor do modelo por R$ 51 400. A configuração top custará R$ 52 400 e adiciona o sistema de freios ABS com controle de frenagem em curvas (CBC) ao catálogo GLX.

Se levarmos em conta os concorrentes mais novos na disputa direta, o Focus mais recheado é R$ 2.480 mais barato do que o C4 com os mesmos acessórios (R$ 54.880) e sai por R$ 1.500 a menos do que o Peugeot 307 Presence Pack (R$ 53 900). Outro argumento que os vendedores das 420 concessionárias Ford terão a seu favor é que o Focus 1.6 também contará com três anos de garantia sem limite de quilometragem, como já é oferecido para o 2.0. Em janeiro, conjuntamente com o hatch, chega às lojas o Focus Sedan 1.6 flex, que custará R$ 54 400 somente na opção GLX com ABS.

Dentro da novidade

Internamente, quem sair do atual Focus 2.0 e entrar no irmão bicombustível notará como principais diferenças o rádio, mais simples, porém integrado ao painel, e a ausência das maçanetas cromadas, substituídas por uma peça em plástico preto simples demais e que passa uma sensação nada agradável de simplicidade. Talvez em um Ka ela passaria sem problemas, mas quem tem como referência o painel do primeiro Focus pode achar que a nova geração sofreu uma involução nesse quesito. Já externamente, no melhor estilo da escola japonesa, só é possível diferenciar as configurações pelo adesivo “flex” no vidro traseiro.

Fora o motor, a única alteração promovida no Focus bicombustível é que a direção passa a ser hidráulica no 1.6, enquanto o 2.0 utiliza sistema eletroidráulico. No que diz respeito à dirigibilidade, o Focus apoiado no seu conjunto de suspensão multilink na traseira e McPherson na dianteira, continua elogiável como sempre até por oferecer uma solução refinada, aplicada em modelos mais caros, por um preço relativamente acessível.

Ao volante

Uma característica positiva do Sigma observada em percurso rodoviário foi sua elasticidade. Pisando fundo no acelerador ele estica as marchas bem além das 6.000 rpm (onde começa a faixa vermelha do conta-giros) e chega quase nas 7.000 rpm sem cortar a injeção. Segundo a Ford, quando ele funciona com álcool a potência é de 115,6 kgfm a 6.250 rpm e o torque atinge os 16,3 kgfm a 4.250 kgfm, sendo que 80% da força está disponível em 1.500 rpm. Com gasolina, esses números caem, respectivamente, para 109,3 cv e 15,4 kgfm.

Com o Sigma 1.6 flex a Ford também estréia o acelerador eletrônico em propulsores dessa faixa no país, o qual se mostrou ágil às solicitações do condutor. Com uma relação peso/potência de 11,1 kg/cv, o Focus 1.6 agradou também na condução urbana. Saídas de valetas e lombadas podem ser feitas em 2ª marcha sem problema, uma ajuda da curva de torque antecipada. Os pedais leves, sendo embreagem conta com acionamento hidráulico, ajudam nos engarrafamentos, enquanto a transmissão IB5 teve as relações da 4ª e 5ª marchas alongadas para favorecer a economia de combustível. O ruído interno, entretanto, mostrou-se elevado com o carro a 120 km/h e o motor ligeiramente acima das 3.000 rpm.

Apesar disso, o consumo não chega a surpreender, com médias em ciclo combinado cidade/estrada de 8,5 km/l com álcool e 13 km/l na gasolina, de acordo com dados da Ford. Com a potência máxima atingida com o combustível derivado da cana-de-açúcar, o Focus 1.6 acelera de 0 a 100 km/h em 12s5 e alcança 189 km/h de velocidade, também segundo medições da fabricante. Não é nada empolgante, mas o modelo é justo em sua proposta e anda de igual para igual com seus rivais.

Motor Sigma

Na quinta-feira a Ford também realizou uma solenidade em sua unidade de Taubaté na qual inaugurou a linha de produção dos motores Sigma. No evento, o presidente da companhia para o Brasil e Mercosul, Marcos de Oliveira, destacou que “a capacidade de produção da fábrica será duplicada para 500.000 motores ao ano e ela passa a contar com um alto nível de importância para a rede global da empresa”. A marca norte-americana investiu R$ 600 milhões em Taubaté, que exportará unidades para o México as quais moverão o Fiesta destinado aos EUA.

Os executivos não confirmam, mas a tendência é que os modelos atualmente equipados com o bloco 1.6 RoCam passem a contar com o Sigma de forma gradual. Apesar de ser um motor global, a novidade recebeu uma série de mudanças para virar bicombustível, como a partida a frio com um injetor por cilindro, bicos injetores de maior fluxo e a adoção de velas com gama térmica mais adequada para o uso de álcool. Segundo a Ford, o Sigma 1.6 16V é o mais leve do mundo dessa cilindrada com peso total de 76 kg.

Para o período entre 2011 e 2015 a Ford já confirmou investimento de R$ 4 bilhões em suas plantas, por meio do qual pretende aumentar sua capacidade fabril e participação no mercado nacional. “O ano de 2010 será o ano do Focus. Agora a gente não vai errar mais com esse produto. Estamos mais conscientes e em cima do Focus. Daqui para frente vocês só vão ouvir falar dele como o líder do segmento”, declarou Antonio Baltar Júnior, gerente-geral de marketing da Ford.