O depoimento do empresário Júlio Uemura na 15ª Vara Criminal de Cuiabá foi marcado por contradições e parece ter reforçado a denúncia do Ministério Público Federal sobre as acusações de que ele era o administrador das empresas "laranjas" no ramo de hortifrutigranjeiros em Mato Grosso. A audiência durou quase quatro horas, e Uemura alegou que não teria contratado o contador René Santos Oliveira para fazer negócios em seu nome com outras empresas.
René é considerado "testa-de-ferro" pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e, em depoimento à Justiça, “confessou” todo o esquema entregando Uemura. No entanto, nesta sexta-feira (18) o empresário ressaltou que apenas comprava algumas mercadorias de René e que ele trabalhava para as empresas Sewal Hortifruti, Tradexco Comércio Importação e Exportação de Gêneros Alimentícios e Canadá Comércio Atacadista de Produtos Alimentícios. A função era entrar em contato com produtores de diversos estados.
Para os promotores do Gaeco, Sérgio Silva da Costa e Arnaldo Justino da Silva, a contradição está no questionamento feito por eles sobre a contratação de René e Uemura responde que “não queria contratá-lo porque ele poderia deixar de pagar as outras empresas e utilizar o nome dele [Uemura]”. Na avaliação dos promotores, não era interessante René Santos ser contratado direto do empresário, já que poderia dar “calote” nas empresas, que eram de “fachada”.
“Não tenho nada a temer. A verdade virá à tona”, declarou Uemura. Em agosto, René foi ao Fórum da capital, onde era realizada audiência do processo, o lucro de Júlio Uemura era de 70% a cada golpe aplicado, sendo que o restante ficava com o corretor. Contou ainda que era funcionário de Uemura e que recebia valores mensalmente para negociar e fazer com que outros empresários emprestassem os nomes.
O primeiro golpe aplicado foi utilizando a empresa "laranja" Canadá Comércio Atacadista de Produtos Alimentícios, de propriedade de Claudomiro Alexandre de Lima, o "Miro", que emprestou o nome para ser usado nas negociações. Ele morava em Belo Horizonte (MG) e os dados foram repassados pela Comercial Uemura. Após ajudar a falir vítimas, ele passou usar dados das empresas Sewal Hortifruti e Tradexco Comércio Importação e Exportação de Gêneros Alimentícios.
Por outro lado, Júlio Uemura negou todas as acusações. Disse que conheceu René Santos em 2006, através de um outro contador, o Paraíba, que por oferecer um bom preço nas verduras, começou a realizar as compras. Negou ter algum envolvimento com as empresas de fachada. Informou ainda que o faturamento da atual empresa “Uemura e Hossada LTDA”, localizada na região do Porto, é de R$ 300 mil mensais.
O que segundo dele, “bate de frente”, com a denúncia e informações de que ele teria causado um rombo de R$ 5 milhões no setor.
Operação Gafanhoto
O Gaeco deflagrou a Operação Gafanhoto no dia 5 de março e prendeu oito pessoas acusadas de participar um esquema de golpe financeiro em Mato Grosso, através de "empresas laranjas" em outros estados. A denúncia foi oferecida pelos promotores Joelson de Campos Maciel e Célio Wilson de Oliveira, que à época, coordenaram a ação.
O empresário Julio Uemura, acusado de liderar a quadrilha, é um grande empresário do ramo hortifrutigranjeiro e contava com apoio de policiais civis e político para se beneficiar. Walter Rabello foi denunciado por usar do cargo de deputado para fazer tráfico de influência em benefício de Uemura, amigo de longa data.
De acordo com as investigações, os acusados usam as empresas laranja em outros estados para comprar produtos sem pagar e ainda ameaçavam os cobradores. Os policiais eram responsáveis por usar da força para inibir cobradores e ainda fazer ameaças e extorsão. Uemura impedia que outros empresários do ramo viessem para o Estado, criando um monopólio hortifrutigranjeiro em Mato Grosso.
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