Existem recursos tecnológicos que poderiam ter detectado os explosivos escondidos na cueca de um nigeriano acusado de tentar explodir um avião sobre Detroit (EUA), mas preocupações de custo e privacidade impediram seu uso amplo até hoje.
Umar Farouk Abdulmutallab, 23, é suspeito de ter tentado acionar um explosivo chamado PETN usando uma seringa com substâncias químicas quando o voo 253 da Northwest se aproximou de Detroit na manhã de Natal. Ele tinha passado por verificações de segurança em Lagos e Amsterdã, onde os detectores de metal normais não identificaram a arma.
O aeroporto de Schiphol, em Amsterdã, tem pelo menos 15 scanners "de onda milimétrica" de corpo inteiro que "enxergam" sob a roupa dos passageiros para detectar armas ou volumes suspeitos. O problema é que seu uso tem sido voluntário até agora, devido à preocupação de que os aparelhos possam mostrar os passageiros "nus" para os operadores e quaisquer outras pessoas que passem diante da tela das máquinas.
Outro problema é o custo alto. Enquanto um detector de metal padrão do tipo usado em aeroportos custa até US$ 15 mil, os scanners corporais custam cerca de dez vezes mais.
"Não prevejo uma corrida para a aquisição de novos equipamentos, porque as operadoras de aeroportos estão com recursos escassos no momento e porque o equipamento, embora seja bom, não resolve o problema", disse Kevin Murphy, gerente de produtos de segurança física do Qinetiq Group, empresa britânica de tecnologia de segurança e defesa.
"Alguns passageiros se sentem tranquilizados porque existem novas tecnologias disponíveis e se dispõem a abrir mão de sua privacidade por isso. Outros se sentem ultrajados."
Murphy disse à Reuters que, além de hardwares avançados, os aeroportos precisam se planos de segurança, modelos comportamentais e processos de contratação eficazes. Dois tipos de scanners, conhecidos como "ondas milimétricas" e "backscatter X-ray", procuram fazer a mesma coisa: enxergar sob as roupas dos passageiros e identificar objetos incomuns graças a suas densidades diferentes em relação ao corpo humano.
Especialistas dizem que os receios públicos de radiação decorrente das máquinas de raios-X são infundados. Mas os temores quanto à privacidade pesam mais que os receios de saúde, nos EUA e especialmente na Europa.
O Ministério do Interior alemão, que define os padrões de segurança dos aeroportos domésticos, se negou a usar scanners corporais no ano passado depois de decidir que representam uma invasão de privacidade, embora sua utilidade e segurança ainda estejam sendo testados.
No Reino Unido, o ministro do Interior Alan Johnson disse: "Pretendemos estar na vanguarda desta nova tecnologia e assegurar sua implementação no menor prazo possível."
Mas os avanços até agora têm sido lentos. Um porta-voz do aeroporto de Manchester disse que o aeroporto está fazendo testes, mas ainda não tomou nenhuma decisão sobre a implementação dos scanners, e a BAA, que opera o aeroporto de Heathrow, disse que não está usando scanners corporais.
O Parlamento Europeu vem se opondo aos scanners corporais por motivos de privacidade e saúde e pediu mais estudos sobre esses dois pontos. Mas um porta-voz da Comissão Europeia disse na terça-feira que "não existem normais da UE que impeçam países membros de usar os scanners se quiserem".