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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

Notícias | Carros & Motos

Os caixotes que rodam

A ciência da aerodinâmica ensina que, quanto menor o atrito com o ar, mais rápidos e econômicos são os automóveis. Não por acaso os designers especializados na área se envolveram em uma busca incessante pelas linhas arredondadas, que apresentam menor resistência ao ar e ao mesmo tempo nos dão uma sensação estética mais agradável que as linhas retas. Tem sido assim desde que o americano Henry Ford inventou a linha de montagem, há quase um século. Alguns modelos de formas curvilíneas que marcaram época, como os britânicos Rolls-Royce e Jaguar e os americanos Cadillac e Mustang, alcançaram uma beleza plástica que lembra os traços leves e suaves do arquiteto Oscar Niemeyer. Mas, de repente, a indústria automobilística parece disposta a desafiar tudo o que aprendemos até hoje sobre estética e sobre inércia e pressão mostrando que é possível, sim, produzir carros angulados com charme e personalidade, sem comprometer o desempenho e o consumo de combustível.


Nos últimos anos, as montadoras, principalmente as de origem asiática, lançaram diversos modelos no mercado com um design retilíneo e inovador. Os novos modelos se concentram basicamente em duas categorias – os carros compactos acessíveis (os affordable small cars), que representam no exterior o papel que os carros populares cumprem no Brasil, e os utilitários esportivos compactos (compact SUV). Eles despertam a atenção pelo estilo diferentão. Têm o formato de um caixote, que favorece o espaço interno, a traseira totalmente vertical e o teto alto. Suas formas são tão excêntricas que eles costumam atrair um público interessado em ser original, ao mesmo tempo que parecem afastar um contingente significativo de consumidores mais conservadores em relação ao visual de seus automóveis.

Por ter preços acessíveis, funcionam como o “carro de entrada” dos consumidores mais jovens no mercado. Como são econômicos e espaçosos, com portas amplas, que facilitam a locomoção, também são bem-aceitos pelos mais velhos, embora o marketing das montadoras seja voltado mais para universitários e profissionais em início de carreira. “Erra quem pensa que os carros são apenas um meio de transporte”, diz o designer alemão Peter Schreyer, um dos mais respeitados projetistas de automóveis do mundo. Schreyer deixou recentemente a Audi e o grupo Volkswagen, na Alemanha, para tornar-se o responsável pela renovação do visual dos carros da coreana Kia, controlada pela Hyundai desde 1998. “Eles demonstram um estilo de vida. Por isso, precisam ter linguagem visual atraente e coerente.”

Entre os novos modelos, de linhas quadradas e design moderno, destacam-se o Cube, da Nissan, um ícone no mercado japonês, o XB, da Scion, montadora especializada em veículos para o público jovem, controlada pela Toyota (não presente no Brasil), e o Soul, da Kia, lançado recentemente no mercado mundial e distribuído no país desde agosto. Com preços no mercado americano que começam com US$ 13.300 (R$ 24 mil), os três modelos venderam um total de 68 mil unidades em 2009 – um ano que foi um dos piores da história da indústria automobilística não apenas nos Estados Unidos, como também em quase todo o mundo. O Element, da Honda, que tem linhas parecidas, mas faz parte de uma categoria superior, a dos SUVs compactos, custa a partir de US$ 20.525 e vendeu mais 15 mil unidades nos Estados Unidos no ano passado. O campeão de vendas no mercado americano em 2009, segundo dados oficiais dos fabricantes, foi o Soul, da Kia. Com seu estilo esquisito, o Soul vendeu 31.621 unidades.

Em geral, os modelos populares incluem inovações tecnológicas, como o Bluetooth, para conexão sem fio com o celular, e entrada auxiliar para os principais tocadores de MP 3, como o iPod e o iPhone. “Os carros populares não precisam ter qualidade inferior e apenas componentes básicos”, afirma Helmut Matschi, membro do comitê executivo da Continental, que desenvolve e fabrica equipamentos para a indústria automotiva. “Eles podem ser produzidos com uma tecnologia de última geração e ser acessíveis para o consumidor.”

No Brasil, até agora, apenas o Soul é o exemplo típico da nova tendência. Fora ele, o Idea, fabricado no país pela Fiat, seria o mais próximo da nova linha. A meio caminho dessa tendência podem ser incluídos o Doblò, da Fiat, o Belingo, da Citroën, e o Kangoo, da Renault, também meio quadradões, mas um pouco mais rústicos – fora os utilitários tradicionais, em geral mais preocupados com a imagem de robustez que de modernidade. Com preço a partir de R$ 51.900 no mercado nacional, em razão da alta carga tributária, o Soul é encarado pela Kia como um concorrente do Foxcross, da VW, do Fit, da Honda, do EcoSport, da Ford, e do Doblò Adventure, da Fiat. Mas, desde seu lançamento aqui, há cinco meses, vendeu apenas 2 mil unidades, 30% a menos que as estimativas. Isso teria acontecido, segundo a representação da Kia no Brasil, por causa de uma greve na sede da montadora, na Coreia, na época em que foi lançado, o que gerou filas para a entrega do veículo. Com a produção normalizada, a expectativa é que as vendas cresçam no país e atinjam 10 mil unidades em 2010, cerca de um terço do resultado nos Estados Unidos no ano passado. Até que isso aconteça, as demais montadoras não deverão se entusiasmar em importar seus modelos quadrados estilosos para vendê-los no país.
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