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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Resgates nos escombros ficam mais dramáticos no Haiti

A pá da retroescavadeira tateia às cegas o monte de escombros a que se reduziu o edifício de quatro andares do Ministério do Planejamento, sob o olhar aflito de dezenas de familiares dos funcionários ali soterrados. Dois deles sobem nos pedaços de concreto e começam a gritar. De lá de baixo, duas pessoas respondem. Um dos soterrados pede que a máquina não avance sobre os escombros, porque ele tem uma pedra sobre o peito.


As lagartas da retroescavadeira recuam cautelosamente. Os espectadores se agitam. A tarde cai sobre Porto Príncipe , e não resta muito tempo de luz. O cheiro forte de carniça que exala dos escombros - e que se sente por todo o centro da cidade - é outro indicador de que não resta muito tempo. Cinco sobreviventes foram retirados desses escombros nos dois dias anteriores.

O agricultor Diosenes Jackson, de 46 anos, move-se de um lado para o outro, os olhos injetados e a voz rouca, depois de três dias esperando que seu irmão ressurja do prédio onde trabalhava. "Tenho certeza de que meu irmão está vivo, porque ele tem um grande coração e um grande espírito", assegura. "Ele é um lutador, é sexto dan no karatê", orgulha-se.

Seu irmão, o agrônomo Roberto Jackson, de 57 anos, era o diretor de Planejamento do ministério. Sua mulher aguarda chorando, recostada no peito de uma parente, num banco de praça em frente ao prédio. Ela diz que 50 famílias dos funcionários soterrados juntaram US$ 5 mil para pagar o serviço da retroescavadeira, embora a máquina pertença ao Ministério de Obras Públicas.

Embora grande parte do centro e de outros bairros da cidade tenha vindo abaixo, há muito poucas máquinas auxiliando no resgate de corpos, incluindo algumas da ONU. A poucas quadras do prédio do ministério, os escombros de uma casa funerária caíram sobre o carro que transportava os defuntos, numa confirmação irônica de que os mortos foram deixados à própria sorte. Muitos corpos continuam jogados nas calçadas, os membros retorcidos e enrijecidos. Alguns moradores andam de máscaras ou protegem a boca e o nariz com panos; outros passam pasta de dente em torno do nariz e da boca, num artifício quase supersticioso para livrar-se do mau cheiro e das pestilências que ele evoca. Depois de um primeiro momento de frenética atividade, tentando arrancar com as mãos as pedras que cobriam seus parentes e seus bens, os haitianos parecem ter entrado numa fase de letargia, de impotência diante da dimensão da destruição e da falta de meios materiais para enfrentar os escombros - que, a maioria acredita, ainda mantêm presos muitos vivos.
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