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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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Militar brasileiro se feriu no Haiti para salvar a vida de um colega

capitão Renan Rodrigues de Oliveira estava dentro de um veículo blindado do Exército no momento do terremoto que devastou o Haiti na última terça-feira (12). A segurança do blindado fez com que o capitão saísse ileso no exato momento do terremoto. Ele, no entanto, desembarcou de volta no Brasil na sexta-feira (15) ferido porque resolveu arriscar sua vida para salvar um companheiro soterrado nos destroços. A história faz parte de uma série de relatos que o Exército brasileiro divulgou neste domingo (15) de militares que estão internados em São Paulo.


No vídeo, Oliveira conta que quando sua viatura chegou ao Ponto Forte 22, mais conhecido como Casa Azul, o cenário não era bom. O prédio de quatro andares que servia como uma das bases dos militares brasileiros estava destruído e alguns militares começavam a se preparar para tentar resgatar companheiros presos nos escombros. “O nosso problema era tomar a decisão de tentar buscar companheiros e poder vir a sofrer com os novos abalos”, diz o capitão.

A consciência do perigo não impediu Oliveira de tentar ajudar os companheiros. Ele conta que subiu em cima dos destroços, onde alguns colegas já tinham estado sem conseguir ouvir nenhum pedido de ajuda. “Eu subi na casa. O pessoal já tinha descido e não tinha achado nada. Eu gritei para ver se a gente encontrava alguém e escutei um sussurro. Aí nós começamos a tentar buscar este elemento e conseguimos salvar esse amigo nosso”.

O salvamento, no entanto, resultou em um ferimento que tirou o capitão de combate. Na tentativa de salvar o colega, ele acabou atingido por destroços. “Durante este salvamento muita gente começou a aglomerar e aí eu vim a ser atingido por um bloco de concreto na minha mão esquerda e tive pequenas lesões nos meus dedos. Com isso, saí de combate”.

Oliveira conta que o espírito que o motivou a arriscar a vida para salvar um colega também atingiu boa parte da tropa brasileira. “Desde o primeiro momento a tentativa de buscar o nosso pessoal foi total. É notório que nossa tropa nunca esteve tão motivada. Este é o momento que o Haiti mais precisa da gente”.

Cinco horas soterrado

Outro relato divulgado pelo Exército foi o do tenente coronel Alexandre Santos. Ele estava com mais três amigos no hotel que servia de sede da missão da Organização das Nações Unidas (ONU), a Minustah, no momento do terremoto. Santos conta que, no desespero, cada um correu em uma direção. Um major que estava junto com ele está desaparecido.

“No que a gente correu, um foi para o banheiro, outro para a escada e eu e mais um major para a piscina. Quando cheguei perto, vi que não ia dar tempo e encostei numa mureta que tinha ali. O major, eu não sei qual foi a decisão dele”, diz Santos.

Encostado na mureta, o tentente coronel acompanhou o prédio desabar. “Foi muito barulho, muito barulho, muita pedra caindo em cima. Eu ficava esperando a pancada final, que felizmente não veio”. Vivo no meio dos escombros, ele começou a gritar por socorro e pediu ajuda também em inglês e espanhol.

Santos conta que em 15 minutos começaram a aparecer pessoas perto de onde ele estava, mas o local em que se encontrava era de difícil acesso. “O local era muito inacessível. Eu não tinha essa noção lá dentro. Depois de cinco horas soterrado, todo preso, só mexia os braços, a parte superior do antebraço e a cabeça, mas tava respirando, depois de cinco horas, ai chegou uma equipe de resgate, o tenente coronel Lareda, da Bolívia, juntamente com o tenente Sanchez. A estes dois eu devo a minha vida”.

O militar brasileiro foi orientando os bolivianos de como ir retirando os escombros que estavam por cima dele. Os envolvidos no resgate usavam a própria mão e um pedaço de ferro, segundo Santos. Após muito esforço ele conseguiu girar o corpo e fazer um percurso de cerca de cinco metros para fora dos escombros. “Em determinado momento eu consegui dar um giro no corpo. Aí fizemos um percurso pequeno de cinco metros por baixo dos destroços e finalmente chegamos até a luz”.

Sobrevivente, Santos destaca os que não conseguiram escapar com vida do terremoto. “Nessa tragédia eu perdi amigos, tenho amigos particulares, o meu companheiro de quarto que conviveu comigo durante estes sete meses está desaparecido ate agora. É triste chegar ao final da missão deixando companheiros para trás”.

Parede se abriu

O cabo Luis Paulo de Chagas Lima é outro sobrevivente. Assim como o colega Carlos Pimentel Almeida, ele pensou em um primeiro instante que o terremoto fosse uma bomba. “A principio, a gente pensou que era bomba ou algo assim que abalou a estrutura. Eu corri para janela e abriu a parede. Chegou a cair o ar condicionado que estava no terceiro andar e pegou no meu rosto e eu caí. Foi a hora em que caiu a estrutura em cima das minhas pernas”.

Lima conta que após a tragédia o barulho do terremoto foi substituído pelo grito da população. “Depois do terremoto foi só ouvir o resto do pessoal gritando, pedindo socorro. Na hora que ficou tudo quieto e só ficou a população gritando. O desastre foi muito grande, muita casa destruída, muita pessoa morreu, muita gente não foi encontrada”.

O relato do desespero da população após a tragédia foi repetido ainda pelo terceiro sargento Willians Mendes Pereira. Ele conta que a prioridade era tentar resgatar os militares brasileiros que estavam soterrados e conta a tristeza de não poder ajudar os haitianos logo de imediato. “Demos algumas voltas e por todo lugar que a gente passava via a população chamando a gente e dizendo que tinha pessoas a serem socorridas, pessoas soterradas, que estavam feridas. Mas a nossa prioridade naquele momento era o nosso pessoal. Doía o coração quando a gente passava por eles e a gente não tinha como ajudar”.

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