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Terça-feira, 30 de abril de 2024

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Ministra haitiana monta gabinete embaixo de árvore e desmente fim das buscas

A ministra das Comunicações do Haiti, Marie-Laurence Lassegue, disse neste domingo que o governo local "nunca interrempeu" as buscas por sobreviventes e que "não entende" por que as Nações Unidas divulgaram essa informação.


"Eu nem conheço o funcionário da ONU que deu essa informação", disse a ministra, em entrevista à BBC Brasil.

No sábado, a porta-voz da ONU para questões humanitárias, Elizabeth Byrs, disse que as buscas por pessoas com vida nos escombros estavam oficialmente suspensas.

"Não entendo isso. Desde o primeiro dia após o terremoto estou aqui, das 8h às 21h, para informar a população e os jornalistas. Hoje é domingo e estou aqui?" disse a ministra.

Como o prédio onde funcionava o ministério foi destruído com o terremoto, Lassegue e seus funcionários estão trabalhando em um "gabinente" improvisado debaixo de uma árvore, no quintal da Delegacia Central de Polícia, em Porto Príncipe.

A ministra disse também que o número de mortos já está entre 120 e 150 mil, mas que deverá subir.

Aos 55 anos, casada e mãe de 22 filhos (sendo 20 adotivos), Lassegue disse que "não pode desistir" do cargo diante do desafio de reconstruir o país. "Tenho que lutar e ganhar." A seguir, a íntegra da entrevista.

BBC Brasil - As Nações Unidas têm divulgado informações oficiais sobre o terremoto, em nome do governo haitiano. Vocês estão trabalhando de forma conjunta nessa divulgação? Lassegue - Não e eu não entendo isso. Desde o primeiro dia após o terremoto eu estou aqui, das 8h às 21h, para informar a população e os jornalistas. Hoje é domingo e estou aqui. Se as pessoas querem se informar, são todos bem-vindos.

BBC Brasil - De onde, então, a ONU está obtendo essas informações? Lassegue - Não sei.

BBC Brasil - Mas no sábado, a relações públicas da ONU anunciou que o governo haitiano havia encerrado a busca por sobreviventes... Lassegue - Não, não. O presidente nunca interrempeu as buscas, nem o primeiro-ministro. E ontem nós encontramos um homem vivo sob escombros. Nunca dissemos isso.

BBC Brasil - E qual a sua opinião sobre isso? Eu nem conheço o funcionário das Nações Unidas que deu essa informação. O que eu posso te dizer é que estamos aqui todos os dias, desde as 8h, para prestar informações.

BBC Brasil - O seu escritório é aqui mesmo, debaixo da árvore? Lassegue - Sim. A Usaid está montando uma tenda para nós. E temos aqui duas linhas de emergência, para que as pessoas possam obter informações.

BBC Brasil - O governo também tem divulgado com certa precisão o número de mortos. Como vocês estão fazendo essa contagem? Lassegue - Há dois dias, durante uma coletiva de imprensa, pedimos à população que coloquem os corpos em frente aos cemitérios ou igrejas. Assim fica mais fácil para nós coletá-los e também contá-los. No momento, temos entre 120 mil e 150 mil mortos, mas é claro que os números serão maiores.

BBC Brasil - Existe uma espécie de discussão entre países como Estados Unidos e Brasil sobre quem vai liderar a recuperação do Haiti. O que a senhora pensa sobre isso? Lassegue - Não tenho conhecimento dessa disputa. A liderança tem de ser do governo do Haiti. Outros países poderão nos ajudar, mas nós temos a liderança.

BBC Brasil - Quais são os principais problemas do Ministério, nesse momento? Lassegue - Precisamos de meios de comunicação. Preciso de computadores, de uma impressora, pelo menos. Perdemos tudo.

BBC Brasil - Onde você estava na hora do terremoto? Lassegue - Nosso prédio, que era perto do Palácio, caiu. Eu estava em uma reunião, na minha sala. Meu chefe de gabinete está morto.

BBC Brasil - A senhora chegou a pensar em desistir do cargo, em função da tragédia? Lassegue - Não. Eu tenho de entender que eu não tenho escolha. Eu sou uma militante feminista, uma política mulher, não posso desistir. Existem mulheres que se espelham em mim. Se eu desistir, o que eu vou dizer para elas? Eu tenho que lutar e ganhar.
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