O Governo iraquiano considerou hoje como inconstitucional uma decisão de um comitê de apelações que permite a participação de candidatos acusados de ter vínculos com o partido governante à época do regime de Saddam Hussein nas próximas eleições parlamentares.
A decisão afeta mais 500 candidatos para as eleições parlamentares de 7 de março. Mais de 6.500 postulantes participam do pleito, no qual estarão em disputa 325 cadeiras do Parlamento.
A partir de um recurso apresentado pela Comissão de Justiça e Investigações do Iraque, órgão que procura evitar a incorporação política de partidários do antigo regime, a Comissão Eleitoral decidiu em 15 de janeiro tirar das listas 500 candidatos por seus supostos vínculos com o extinto partido Baath.
Mas uma comissão de apelação rejeitou ontem essa resolução e adiou para depois das eleições uma decisão final sobre os possíveis vínculos com o Baath dos candidatos acusados que vierem a ser eleitos.
"O adiamento da resolução da comissão para depois das eleições é ilegal e inconstitucional", afirmou hoje o porta-voz do Governo, Ali Dabbagh.
A maioria dos candidatos rechaçados inicialmente procede das fileiras sunitas. País de maioria xiita, o Iraque está tentando superar o passado herdado do regime de Saddam Hussein e seus dirigentes acusaram antigos membros do partido Baath de alguns atentados terroristas dos últimos meses.
O primeiro-ministro iraquiano, Nouri al-Maliki, tinha convocado para hoje uma reunião do Parlamento para analisar o tema, mas a sessão foi postergada para o próximo domingo.
O debate sobre a habilitação legal dos mais de 500 candidatos despertou um debate político e espalha dúvidas sobre as eleições parlamentares, a segunda desde a queda do regime de Saddam Hussein.
Nas anteriores, em 2005, não houve participação da maioria dos grupos sunitas.
"A decisão de permitir (a participação eleitoral) a centenas de excluídos por suas conexões com o antigo regime foi bem recebida nas ruas, mas despertou rejeição e ressentimento em outros", declarou à Agência Efe o analista político sunita Dawoud Salem.
Já Amar al-Hakim, líder do principal Conselho Supremo Islâmico Iraquiano, o principal partido xiita, afirmou que a decisão do comitê de apelações "é ilógica e pode complicar a situação no país".
O diretor-executivo do órgão que resolveu excluir os candidatos, Ali al Lami, descreveu a decisão do comitê de apelações como inconstitucional e como uma violação da lei eleitoral.
Além disso, Lami acusou a embaixada dos Estados Unidos em Bagdá de interferir nos assuntos internos do país e pediu "o fim da intervenção americana nos assuntos do Iraque", insistiu.
A possibilidade de que os candidatos acusados possam concorrer no pleito foi igualmente criticada pelo clérigo radical xiita Moqtada al-Sadr.
"Esta decisão pode ser um estigma que ficará gravado na testa do Governo iraquiano", disse al-Sadr.