Olá, viajantes. Vamos mergulhar numa história diferente hoje? Imaginem uma barragem como a de Manso (de Chapada dos Guimarães), só que muito maior, que se estende por 150 km, entre dois estados. Essa represa, de tão extensa, “engoliu” cinco cidades (ou pedaços delas), atingindo 10,5 mil famílias, entre zona rural e urbana, que tiveram de ser retiradas de suas casas para a área ser alagada. Estou falando da Usina Luiz Gonzaga, no Rio São Francisco, entre Pernambuco e Bahia, nosso destino na coluna de hoje.
Ao longo de toda sua extensão, a represa é aproveitada para o lazer, com pescaria e banho de rio, em praias que atraem turistas e locais. Mas é no município de Petrolândia (390 km de Recife), em Pernambuco, que fica a grande surpresa. Essa cidade teve parte de sua zona rural coberta pelas águas, deixando apenas a antiga Igreja Sagrado Coração de Jesus com o telhado para fora do Rio São Francisco.
A ruina do templo católico virou atrativo turístico, com passeios de barco, catamarãs, lanchas e motos aquáticas. O fluxo de visitação se intensifica aos fins de semana, não restando tantas opções de acesso de segunda a sexta-feira, além de passeios para pequenos grupos em lanchas privadas – em que o custo acaba sendo maior que dos catamarãs. Mas aí descobrimos o Estaleiro, restaurante próximo da igreja, que oferece passeios de barco ao local a preços baixos. Partimos de lá.
É possível chegar muito perto e até entrar no que sobrou da igreja com o barco. O topo da parte central do templo é de concreto, em formato triangular, coberto com paredes de tijolo que ainda mantém a simetria da arquitetura original. A grande porta da igreja não existe mais e a passagem está totalmente submersa, o que dá noção da profundidade da água naquele ponto e da altura do edifício religioso. O espaço por onde o barco entra é um vão entre a porta e a cúpula.
O teto da igreja está íntegro e protege o interior dos raios de sol, deixando ali a água mais escura. E isso é parte importante do espetáculo, porque as paredes, cheias de janelas já sem os vitrais, criam passagens para a luz solar entrar, revelando a cor esmeralda da água, em um trajeto diagonal que vai perdendo força com a profundidade.
A proteção da luz solar também serve de atrativo para morcegos, que buscam refúgio durante o dia e se ouriçam com o barulho do motor do barco, voando para o fundo da igreja, onde antes ficava o altar, o que acaba por aumentar a sensação lúgubre de adentrar ruínas de um templo religioso parcialmente submerso.
É possível também entrar nas águas e mergulhar ali dentro, passando pelas janelas e, em dias de sol forte, enxergar um pouco do piso da igreja. Há também resquícios de uma charqueada podem ser avistados nos períodos do ano de maior seca, além da caixa d’água que abastecia a região.
A coluna Pelos Brasis é assinada pelos jornalistas Lucas Bólico e Isabela Mercuri. Acompanhe o projeto no Instagram, TikTok, Youtube e Spotfy
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