Lucas na aldeia dos Paiter Surui | Piau com cará na aldeia | Lucas provando café Don Bento em Cacoal
Olá, viajantes! Seguimos em Rondônia, e hoje vamos entregar o que prometemos na coluna passada: o segredo do café amazônico, um dos melhores e mais premiados do Brasil, e a produção local de cacau e chocolates artesanais feitas na Amazônia, neste estado que faz divisa com Mato Grosso.
Estamos no município de Cacoal, conhecido como capital do café. A cidade fica na parte central do estado, a 938 km de Cuiabá. Quem acompanhou por aqui e por nossas redes nossa passagem por Minas Gerais, se lembra de quando conhecemos uma fazenda produtora da espécie arábica (veja aqui) e agora descobrimos que foi a robusta amazônica que mais se adaptou em Rondônia, no clima quente e úmido.
Estamos falando mais especificamente do fruto de um cruzamento de grãos selecionados de robusta e conilon. Para se ter uma ideia da qualidade do café que estamos falando, quatro dos sete finalistas do prêmio Coffee os the Year de 2021 eram daqui.
IG Matas de Rondônia
Mas o que faz o café daqui ser tão único? O sol é fundamental para o desenvolvimento da fruta, deixando-a, a grosso modo, mais açucarada. E estamos falando de um local com abundância de incidência solar. Esse já é um diferencial. Aqui, o ano é metade muito úmido e metade mais seco. Quando diminuem as chuvas, a colheita é feita, com a fruta madura e menos água em seu interior... o que a deixa ainda mais saborosa.
Para conhecer melhor essa produção fomos à Don Bento, fazenda que produz o café classificado em segundo lugar no Coffee Of The Year de 2019 e 2021, campeão em qualidade em 2018 e premiado por sustentabilidade de 2017 a 2021.
A fazenda recebe para uma vista guiada, da plantação à xícara, com lanche especial aos domingos (diferentes tipos de cafés, pastel, croquete, bolo de café, pães de queijo, suco...). De acordo com os donos da Don, as características climáticas já citadas e a adaptação do grão fazem com que o sabor conseguido na região não consiga ser reproduzido em nenhum outro lugar.
Na fazenda o café é cultivado, colhido, passa pela secagem e pela torra. Todas as etapas podem ser acompanhadas nas visitas. Mas há ainda um diferencial. Você provavelmente já ouviu falar de cafés especiais que são ingeridos por alguns animais e que depois disso passam pela torra e são famosíssimos pelo sabor único. O que acontece no sistema digestivo desses bichos é a fermentação do grão. Na fazenda que visitamos, há uma porcentagem de grãos que são separados para passarem por fermentação também.
Esses são os cafés mais premiados. O processo de fermentação aumenta o sabor frutado do grão, o que impacta diretamente o aroma e o sabor na hora de beber. Provamos uma xícara de café fermentado na fazenda – sem adição de açúcar – e ele tinha sabor semelhante ao chocolate amargo.
Além da estrela da casa, o fermentado, da linha especial, também são comercializados o tradicional de torra média e o torra intensa, voltados para os paladares habituados aos cafés mais “fortes” – ou amargos. Mas vale ressaltar que até os de torra intensa têm a mesma qualidade dos grãos de linha especial. Isso porque contamos aqui na coluna sobre o café arábica que muitas vezes os cafés de torra intensa são assim preparados para encobrir imperfeições e acabam, na torra, levando pedaços de galhos, folhas e outras impurezas.
Produzido na Amazônia, o café e enviado para qualquer lugar do Brasil (confira aqui o contato).
E os chocolates?
Capital do café, Cacoal leva no nome a produção de cacau, matéria-prima do chocolate. Isso faz com que o município abrigue produtores da fruta e do item preferido da maioria dos amantes de doce. Aqui vai uma curiosidade: o chocolate nasceu na América, derivado da amêndoa do cacau fermentada e torrada. Isso lembra alguma coisa?
O Brasil é o maior produtor de cacau da América do Sul. Felizmente, quando passamos por Cacoal podemos participar da 2ª edição da Cafecau, a feira do café e do cacau de cacoal. Lá havia muitos produtores locais que fazem seus próprios chocolates e pudemos conhecer também o mel do cacau, bebida produzida da polpa do cacau. Confira abaixo o vídeo da Cafecau.
Outra experiência que tivemos nas proximidades de Cacoal foi uma hospedagem na aldeia dos Paiter Surui. Fizemos contato por rede social e combinamos de ir lá conhecer. Eles possuem um Centro Cultural, dormitórios, programação com rodas de conversa e tudo mais.
Quando cheguei na aldeia, não encontrei o Gasodá, nosso contato. Havíamos combinado nosso encontro pelo Whatsapp. Passei por algumas casas e segui de kombi para o Centro Cultural da aldeia. Havia um rio no caminho. Desci, chamei e nada. Aí resolvi atravessar o rio. Não tinha ninguém do outro lado. Esperei mais um pouco e voltei. Na volta, resolvi parar em uma casa para perguntar por ele. O próprio Gasodá apareceu, de notebook em mão e fones de ouvido. Estava dando aula. Nos viu passando, mas como sabia que voltaríamos, só esperou nosso retorno.
Os Paiter são um povo que só teve contato com não indígenas em 1969. Gasodá nasceu apenas 10 anos após esse encontro. Aprendeu a língua materna, o tupi mondé, e depois o português. Se formou em turismo e de lá teve a ideia de criar o Centro Cultural e receber não indígenas para o intercâmbio.
Gasodá fez mestrado e hoje está concluindo doutorado. Seu trabalho é reconhecido por outros povos e é chamado para mostrar o modelo do Centro Cultural que criou. Além de dar aulas remotas, ele viaja para outros países e dá palestras. Confira abaixo uma entrevista com ele.
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