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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

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'Já ouvi: saia daqui, sua pornográfica', diz escritora erótica

“Eu quero ser conhecida como escritora de poesias eróticas”. É assim que Andrea Pelegrinelli, autora do livro ‘Eu sou o Pecado ...’ se definiu durante a 8ª edição do Festival Literário de Poços de Caldas (MG), o Flipoços.


Aos 36 anos, esta é a primeira participação da autora que é da cidade de Louveira (SP) em um festival literário e durante os nove dias de evento ela dividiu o estande dos escritores independentes com outros autores, mas conquistou o próprio espaço pelo diferencial do livro. “Eu me encantei pelo trabalho dela. Ainda não comprei, mas pelo que pude ver, está bem bacana”, disse a economista Gabriela Claudini de Castro.

Ponto para a escritora, que na obra de 177 páginas traz poesias curtas e carregadas de erotismo, mas sem serem pornográficas, ilustrações de Paulo Branco e ainda traduções para o italiano, mas que já ouviu frases como “Saia daqui. Você é pornográfica”. Mas não é assim que Andrea se sente. Casada, mãe de dois filhos – de seis e sete anos – e sonhadora, ela cursa gestão pública, vive em um sítio e anseia por fazer poesia. “Eu assumi esse risco, mas não sinto que minha poesia é pornográfica. Ela é erótica, mas trata-se de um livro com uma linguagem diferente e que de certa forma vem para valorizar a mulher e fazê-la enxergar o potencial que tem. Mas ele é também para os homens, justamente para que valorizem as mulheres”, definiu.

Para escrever o livro, Andrea começou a pesquisar autores ligados ao tema, como Gilka Machado, que no início do século XX já escrevia sobre o tema. “Quis buscar referências e o que concluí é que tudo que queremos é sentir e sermos sentidos”, resumiu Andrea.

No entanto, a carreira literária de Andrea teve início muito antes. Aos 17 anos, ganhou um concurso de poesias na escola e pensou: “Quantas mais eu tenho que ter para ter um livro?”. E acumulando escritos lançou, em 2000, o livro ‘Afeições’. Em 2009, arriscou-se na literatura infantil com a obra ‘O leãozinho Nunu’, inspirada no filho Renato e foi somente após acumular acessos e leitores brasileiros, americanos e chineses, que resolveu investir na poesia erótica.

“Recebi uma negativa da editora que fez meu livro infantil, que considerava o teor das poesias muito eróticas para um selo que tinha me lançado com uma história para crianças e depois de muita procura, me encontrei com a minha editora agora”, contou.

Mas a publicação do livro e a batalha pela venda independente, fora do mercado das grandes editoras expõe a autora a situações que ela considera desagradáveis, mas que nem assim a desanimam de lutar pela arte que acredita. “Basta eu dizer que faço poesia erótica para perceber a mudança no olhar dos homens. A maioria deles pensa, automaticamente, que eu estou disponível e passam a me xavecar”, desabafa.

Entretanto, as polêmicas não param por aí. É inevitável a comparação da poesia erótica com a trilogia best seller ‘50 tons de cinza’. Mas Andrea garante que não existe relação. “Meu livro tem mais a ver com sensualidade, com sensibilidade, com coisas estão no olhar, no toque da pele com as mãos, com os pés, enfim, acredito que o erotismo fale de várias formas e o meu fala do poder que a mulher tem para se despertar, sentir e ser sentida e não apenas sobre sexo. O problema é que as pessoas se escandalizam e eu acho que isso é um preconceito com elas mesmas”, destacou.

Ela garante também que não leu a trilogia. “Eu comprei, mas ainda não li. Aliás o ’50 tons de cinza’ foi lançado duas semanas depois do meu primeiro lançamento que aconteceu em uma livraria em Vinhedo (SP). Agora eu vim pro Flipoços e estou com o livro no hotel, mas ainda não consegui terminar de ler”.

Contudo, Andrea destaca que se delicia com a literatura clássica de Carlos Drummond de Andrade, Manoel Bandeira e também de Clarice Lispector. “Eu gosto de livros que trazem identificação, que fazem minha alma vibrar. Para mim, boa literatura é isso e é isso que eu espero levar para as pessoas. Eu quero fazer o que gosto e viver do meu sonho. Tenho medo de morrer em uma cadeira de balanço frustrada. Eu quero morrer fazendo a minha última poesia”, finalizou.

Serviço – O Flipoços começou em 27 de abril e vai até este domingo no Espaço Cultural da Urca em Poços de Caldas. A entrada no espaço e para as palestras é gratuita. Mais informações sobre a programação do festival podem ser obtidas pelo site www.feiradolivropocosdecaldas.com.br.

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