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Sexta-feira, 26 de abril de 2024

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Vaticano critica bispo que negou Holocausto e liga situação em Gaza a viagem do papa

O jornal do Vaticano, o "L'Osservatore Romano", criticou duramente o bispo ultraconservador inglês Richard Williamson --reabilitado no sábado (24) pelo papa Bento 16 após passar 20 anos excomungado-- por negar a ocorrência do Holocausto nazista dos judeus. Ao jornal italiano "La Repubblica", o cardeal Walter Kasper, responsável pelas relações com o judaísmo, disse que as "estúpidas" declarações de Williamson não vão influenciar a possível visita do papa a Israel, vinculada, segundo ele, a questões como a situação em Gaza.


As declarações de Williamson "são inaceitáveis", escreveu em um editorial o jornal da Santa Sé, destacando que o antissemitismo "não é objeto de discussão" para um católico. O jornal oficial do Vaticano lembra ainda a declaração "Nostra Aetate" ("No Nosso Tempo"), adotada em 1965 ao término do Concílio Vaticano 2°, documento que revolucionou o enfoque da Igreja Católica em relação aos judeus, rejeitando a ideia de que podem ser acusados de "deicídio", pela morte de Jesus Cristo.

"Este documento marcou uma mudança decisiva" nas relações entre a Igreja Católica e os judeus, aponta o jornal da Santa Sé. "As declarações de Williamson, nas quais nega o Holocausto, contradizem os ensinamentos da Igreja e são muito graves, lamentáveis", ressalta o editorial.

Segundo o "L'Osservatore Romano", anular a excomunhão aos quatro bispos consagrados ilegitimamente em 1988 pelo prelado tradicionalista Marcel Lefebvre, como autorizou no sábado o papa, "responde aos ensinamentos do Concílio, que prefere o remédio da misericórdia ao da condenação".

Tensão 
O líder da conferência dos bispos da Itália condenou as opiniões de Wiliamson sobre o Holocausto. O cardeal Angelo Bagnasco elogiou a "misericordiosa" decisão do papa de suspender a excomunhão de Williamson e de três outros bispos tradicionalistas, mas disse que tinha de expressar sua desaprovação em relação à visão de Williamson sobre o Holocausto, que ele classificou de "infundada e injustificada".

Em uma entrevista divulgada por uma TV sueca, Williamson disse que não há provas de que 6 milhões de judeus tenham sido mortos durante a Segunda Guerra Mundial. Ele também questionou o uso de câmaras de gás pelos nazistas para matar judeus presos em campos de concentração.

Williamson foi excomungado em 1988 quando ele e três outros bispos foram consagrados sem consentimento papal pelo falecido arcebispo ultraconservador francês Marcel Lefebvre --o que o Vaticano considerou um movimento de cisma.

A reabilitação de Williamson foi um dos vários movimentos recentes do Vaticano que desagradam a grupos judaicos e levantaram acusações de antissemitismo. No início do mês, o cardeal Renato Martino, presidente do Conselho Pontifício de Justiça e Paz do Vaticano disse que Gaza, sob ataque israelense, assemelhava-se a um "["grande campo de concentração"]"

O papa também enfureceu muitos judeus em 2007 quando suspendeu restrições a missas em latim, de acordo com o rito tridentino, que contém uma oração pela conversão dos judeus. A Associação dos Rabinos Italianos decidiu, em resposta à decisão sobre a missa, boicotar as celebrações do dia anual de diálogo interreligioso entre judeus e cristãos, no último dia 17, instituído pelo papa João Paulo 2º como uma forma de combater o antissemitismo.

O grupo disse que as decisões recentes de Bento 16 estavam "cancelando" 50 anos de progresso no diálogo entre as duas religiões. Falando na reunião anual da conferência dos bispos, o cardeal Bagnasco disse que a reação dos rabinos era "injusta".

Outra fonte de atrito entre o Vaticano e Israel é o processo de beatificação do papa Pio 12, que liderou a igreja durante a Segunda Guerra e é acusado por grupos judaicos de ter fechado os olhos à perseguição nazista aos judeus. Em 2008, Bento 16 interrompeu o processo que pode levar o antecessor a ser declarado santo, pedindo um estudo aprofundado sobre o assunto. O atual papa destacou, no entanto, o que chamou de trabalho silencioso e secreto de Pio 12 a favor dos judeus nos tempos do Holocausto.

Viagem
Em entrevista ao "La Repubblica", o cardeal Walter Kasper que "a viagem do papa não depende" da tensão nas relações entre judeus e o Vaticano causada pela anulação da excomunhão de Williamson.

"As declarações deste bispo são inaceitáveis e estúpidas e não têm nada a ver com a Igreja Católica", afirmou o prelado.
"Entendo que as declarações de Williamson podem ofuscar as relações com o judaísmo, mas estou convencido de que o diálogo continuará", acrescentou.

"O projeto de viagem de Bento 16 a Israel não depende disso. A organização da visita está essencialmente vinculada a questões políticas e se viu complicada pelos acontecimentos em Gaza", completou o cardeal Kasper.
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