A Estônia, palco do amistoso de quarta-feira da seleção brasileira, tem só 1,4 milhão de habitantes. Pelos números atuais, é o país de menor população com que o time nacional já jogou. Mas o estádio Le Coq, o local do jogo, na capital Tallinn, comporta apenas 10 mil torcedores. Deveria então estar com a lotação esgotada para o amistoso há semanas, mas aí a crise mundial entra em cena.

Um dos países mais abalados pelo caos nas finanças do planeta, assim como seus vizinhos Letônia e Lituânia, a Estônia faz uma queima de ingressos para evitar grandes clarões nas arquibancadas no mais importante jogo da sua história em sua pequena arena.

Antes cotadas ao equivalente a R$ 280, a maior parte das entradas teve seu preço rebaixado para R$ 140, mas ainda assim restavam à venda quase 3 mil dos 7 mil lugares disponibilizados para o público em geral (parte dos ingressos foi para patrocinadores). Ontem, a menos de 48 horas para o amistoso, era possível comprar entradas em vários sites locais.

"Nós estipulamos o preço dos ingressos em fevereiro. De lá para cá, a situação da nossa sociedade mudou muito", diz, à imprensa local, Aivar Pohlak, o presidente da federação estoniana, que marcou o amistoso contra os brasileiros por uma cota de cerca de US$ 2 milhões para comemorar os cem anos do futebol no país.

Segundo Pohlak, a diminuição no preço das entradas foi feita para evitar muitos lugares vazios nas arquibancadas.

Depois de anos de altas taxas de crescimento, a Estônia viu seu PIB diminuir 3% no ano passado. As projeções para 2009 são muito mais catastróficas --a economia do país deve cair cerca de 9%. A taxa de desemprego, apesar de ainda baixa para os padrões europeus, aumentou quase 50% (era de 6,2% no final do ano passado, contra 4,7% de 2007).

A maior parte da economia estoniana está no setor de serviços, e o turismo foi um dos mais atingidos pela crise.

Os poucos atletas brasileiros que falaram na chegada a Tallinn, hoje, mostraram pouco conhecer sobre a Estônia.

"Para falar a verdade, não sei quase nada. Só me disseram que é um lugar muito tranquilo", disse o lateral-esquerdo André Santos.

Nem o desembarque da seleção brasileira gerou alvoroço. No aeroporto, mesmo sem a presença de fãs, a delegação saiu por uma porta exclusiva. Na entrada do hotel, bem no centro da cidade, menos de dez garotos procuravam autógrafos dos jogadores brasileiros.