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Quarta-feira, 02 de outubro de 2024

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Tendler apresenta documentário "interminável" em festival

"Todas as utopias acabam em barbárie. O socialismo, por exemplo, a foi e o sionismo está caminhando para a barbárie, se já não a é", sentenciou o diretor que, no entanto, se considera um "utopista otimista".

Após 19 anos de trabalho, o diretor Silvio Tendler apresenta em Curitiba seu mais recente documentário, "Utopia e Barbárie", uma obra "inacabada e interminável" sobre as ideologias contemporâneas e afirma que "todas as utopias acabam em barbárie, embora possam se regenerar em utopia".


Tendler concorre com "Utopia e Barbárie" na quarta edição do Festival do Paraná de Cinema Brasileiro e Latino. Em entrevista concedida à Agência Efe confessou que nunca imaginou demorar tanto para fazer o filme, "mas sabia que era um quebra-cabeça difícil de montar".

O cineasta começou a trabalhar em 1990 nesta obra que "procura discutir a história do mundo e das ideologias". Para isso, condensou em duas horas de montagem cerca de 400 horas entrevistas com figuras como o general vietnamita Vo Nguyen Giap, a ensaísta americana Susan Sontag e o escritor uruguaio Eduardo Galeano.

Em uma história amadurecida por quase 20 anos, Tendler aborda os grandes conflitos ideológicos e as barbaridades do século XX, mas também fala sobre os sonhos de liberdade que movimentaram toda uma geração, tomando como eixo o ano de 1968, "que não é um ano, mas a construção de uma época", diz o diretor.

"Todas as utopias acabam em barbárie. O socialismo, por exemplo, a foi e o sionismo está caminhando para a barbárie, se já não a é", sentenciou o diretor que, no entanto, se considera um "utopista otimista".

O documentarista reconheceu que, neste longo tempo de trabalho, "tudo mudou, mudou minha maneira de ver o mundo e o público ao qual se destinava o filme, que agora é 19 anos mais velho do que quando comecei a trabalhar e nunca sofreu os efeitos das coisas que eu falo".

Apesar disso, Tendler assegura que nunca faz seus filmes para seus contemporâneos.

"Faço-os para as pessoas que têm 19 anos hoje, sempre para uma geração nova, quero conversar com o público, e que entenda do que estou falando", disse.

Este intervalo de tempo mudou também a perspectiva do filme, conta o autor, já que a ideia original era analisar a história até o ponto da dissolução do socialismo, o fim da União Soviética e a queda do muro de Berlim.

"Quando cheguei a esse ponto, caíram as Torres Gêmeas em Nova York e mudou toda a história. Entendi que tinha que continuar", explicou.

Mas quando estava novamente acabando a montagem do documentário, "chegou a aposentadoria de Fidel Castro, as vitórias eleitorais de Lula e Evo Morales e a crise do capitalismo", afirmou.

Durante todos estes anos, antes de acabar sua obra "mais internacional", Tendler viajou por todo o mundo e entrevistou diversas personalidades, mas admite que uma das que mais o impressionou foi o militante comunista brasileiro e fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), Apôlonio de Carvalho.

Falecido em 2005, Carvalho lutou com as Brigadas Internacionais para defender a República espanhola e combateu com a resistência francesa contra a ocupação nazista, além de ser torturado pela ditadura militar brasileira.

"A sua é uma utopia possível, uma luta que não foi em vão, diferente daqueles que viveram todo o tempo com medo de se comprometer e chegam ao final da vida sem nada para contar", afirmou o diretor.

Entre os que faltam, o diretor destaca dois nomes "muito emblemáticos da época": o cineasta francês Jean-Luc Godard e a ativista afro-americana Angela Davis.

Mas, depois de 19 anos e com o filme já estreado para o público e Tendler confessa se sentir "anestesiado".

"Agora já não é mais meu, o compartilho com os olhos das pessoas que o veem, que tem o direito de dizer o que pensa e eu, a obrigação de escutar", opinou o cineasta.
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