Após um período árido em games, apenas revisitando clássicos do passado (o que também não deixa de ser bom), enfim pude experimentar um clássico contemporâneo: New Super Mario Bros Wii. Aproveitarei também o primeiro Cool Vibrations de 2010 para falar um pouco sobre como a grandiosidade desse título também salvou o ano e o console da Nintendo.

Embora já tenham me acusado de além de ser doido e nintendista; não tenho a menor dúvida em afirmar que 2009 foi um ano ruim para o Wii. Em 2007 e 2008 o console teve lançamentos o suficiente para mantê-lo esgotado nas lojas permanentemente. Foi aquela explosão comercial que todos fomos testemunhas e motivou chiliques de istas e de setores da indústria de games incomodados com o sucesso da Nintendo. Vocês se lembram bem. Então não foi à toa que o ano de 2009 começou com grande expectativa sobre o aparelhinho branco, em especial uma maior atenção por parte das produtoras terceirizadas. Mas a verdade é que a Nintendo fez escolhas erradas e planejou mal o ano.

O primeiro erro foi apostar tudo em Wii Music e Animal Crossing, dois games que não convenceram o público a comprar mais consoles e não geraram o mesmo fenômeno que os maiores sucessos do Wii geraram. Não falo diretamente sobre os jogos porque não tive contato com eles, mas é fato que de alguma forma falharam em suas propostas e houve um tom geral de decepção sobre eles. Provavelmente a Nintendo avaliou que Wii Music e Animal Crossing manteriam a chama do sucesso do Wii acesa e isso tornaria inevitável a chegada de uma cobertura maior das terceirizadas. Mas isso não ocorreu. Parte por falta de compreensão e parte por aversão, as terceirizadas continuaram a evitar o Wii, mas tirando alguns bons games, não me lembro de nada de peso além de Monster Hunter 3. O único ponto de brilho que me lembro foi o excelente Wii Sports Resort, que gerou uma nova demanda por consoles e popularizou o Wii Motion Plus.

Falando bem resumidamente, me lembro da E3 de 2009 e de toda a babação de ovo de alguns títulos rardecores (alguns nem saíram em 2009). Mas um game em especial foi um tanto ignorado ou subestimado pelo jornalismo de games: New Super Mario Bros Wii. Ou estou muito louco, ou me lembro que até houve certa campanha negativa contra o jogo, com acusações de ser um port da versão DS, jogo casual, uma “produção vagabunda” e etc. Mas o fato é que a despeito dos críticos, o jogo se tornou mais um fenômeno da atual geração.

O jogo que salvou o Wii

Quem acompanha o blog sabe que esse era um game aguardado por mim, basta revisitarem posts antigos para notarem isso. Mas ainda sim, dentro do limite eu procurei me distanciar de qualquer possível “hype” que fosse. Tomei essa atitude justamente para não turvar meu julgamento quando eu estivesse diante do jogo. Mas logo que NSMB Wii foi lançado foi impossível não ver as notícias com as vendas iniciais do jogo e o ar de surpresa (bem disfarçado, é verdade) de alguns jornalistas com isso. De qualquer forma, foi um momento de surpresa quando tirei o plástico da caixinha vermelha do jogo. Por um instante fiquei pensando se sentiria algo nostálgico ao ligar o game, mas ao contrário, foi uma sensação de novidade, igual àquela quando acabamos de comprar um game, digamos, completamente novo. Embora demorasse tantos anos para Mario voltar em um game principal para consoles de mesa, foi mais do que um simples “bem vindo de volta, Mario”.

O game é simplesmente fantástico. Ainda não tive tempo de chegar longe nele (terminei os dois primeiros mundos com todas as moedas), mas já joguei o suficiente para perceber que todas as idéias de design funcionaram a contento. Realmente o desafio é alto e é fácil perder vidas, mas a preocupação que tinha com a dificuldade passou assim conforme fui vendo que o ajuste foi bem feito. Ao contrário do que alguns disseram por aí, não há qualquer sensação de vazio nas fases jogadas com apenas um jogador. Embora não haja nada brilhante como o primeiro estágio de Super Mario Bros ou o mundo gigante de SMB 3, achei tudo bem implementado e encaixado. O mesmo vale para a trilha sonora, nada brilhante, mas aquelas vozinhas sintetizadas grudavam na minha cabeça. A herança estética da versão DS caiu muito bem no jogo, gerando um visual agradável e gracioso, sem ser fofo ou infantil demais. Por outro lado, as novidades da versão Wii lhe conferiram personalidade própria, tanto na direção de arte quanto no gameplay.

Mas sem dúvida que o aspecto mais interessante foi o implemento do modo multiplayer no game principal, adicionando uma experiência de jogo sem igual. Muito mais do que um truque, o multiplayer se tornou um valor que provavelmente será copiado por muitos games futuros. Procurem por pessoas que experimentaram esse esquema de jogo e só verão elogios e declarações de satisfação. Olhem os vídeos no youtube e procurem perceber o riso das pessoas jogando. O multiplayer funcionou tão bem devido à natureza arcade de Mario, que afinal é um game de ação (“plataforma” foi um termo inventado por uma jornalista americana nos anos oitenta e acabou pegando). Games arcade sempre são mais divertidos na medida em que mais pessoas podem compartilhar a mesma experiência de jogo. Isso claro no aspecto físico, ou seja, todo mundo participando da bagunça (por isso também que não há a menor necessidade de um modo online nesse jogo). New Super Mario Bros também seguiu com maestria a receita dos clássicos, cujo bordão é “easy to play, hard to master” (fácil de jogar, difícil de dominar), tão esquecido nos atuais tempos rardecores. Quando escrevi sobre os paradigmas de design dos games Mario, eu abordei o caráter democrático que os games tridimensionais não conseguiram mimetizar. Em compensação, o bordão é a síntese perfeita de NSMB Wii.

O sucesso do game é somente uma ilustração da qualidade e do poder da marca Super Mario Bros. Pelo o que já pude ver, parece que NSMB Wii foi capaz até mesmo de barrar o sucesso de Final Fantasy XIII, possivelmente a última esperança dos rardecores sonistas de ver o PS3 ganhar algum destaque nessa geração. A caixinha vermelha com o game do encanador está vendendo feito pãozinho quente em todos os cantos do mundo. O game não só salvou o Wii como deu a Nintendo uma segunda chance para recuperar o fenômeno de 2007 e 2008. Ninguém sabe ainda tudo o que ela aprontará esse ano, mas quanto a isso basta dar tempo ao tempo. Afinal, o ano mal começou e muitas coisas legais ainda virão.

É isso aí amiguinhos, bem vindos a 2010. Abraços e até o próximo post.

André V.C Franco/AvcF – Loading Time.