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Sexta-feira, 03 de maio de 2024

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O primo que leu tudo que podia para impressionar o ídolo e deixou a chance passar

Foto: Olhar Direto

O primo que leu tudo que podia para impressionar o ídolo e deixou a chance passar
Um dos primos de Marcos Coutinho, falecido jornalista e diretor do Grupo Olhar, ficou sabendo tarde demais da morte do parente e não pode participar nem do velório, nem do enterro do primo. Contudo, Mateus Barbosa enviou uma "carta" em homenagem ao jornalista, com quem deixou de conversar devido a um desentendimento “besta”, e o arrependimento de não ter retomado contato a tempo.


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"Li tantos livros para um dia poder me sentar com ele e conversar sem medo de decepcioná-lo... E agora ele vai e morre assim?", diz trecho da homenagem póstuma. Leia o texto na íntegra:

Olá, Sou primo de Marcos Coutinho Barbosa (o ''Canalha'', como costumava chamá-lo e vice-versa). Soube da triste notícia na noite passada e não tive meios de chegar ao seu velório nem de comparecer ao seu enterro (que está acontecendo agora, enquanto escrevo esta mensagem).

Ficamos todos muito tristes aqui na Bahia (eu, meu pai Carlos Barbosa, meu irmão Daniel e minha irmã Alice). Marquinhos fez parte das nossas vidas e colocou o nome do seu primeiro filho ''Matheus'' em minha homenagem (assim disse ele!). Mais tarde, coloquei o nome do meu único filho, ''Lucas'', em homenagem ao seu segundo filho, ''Lucca''.

Um dia, quando eu tinha 11 anos, Marquinhos estava hospedado na casa dos meus pais sua namorada Janine (eles eram bem jovens, mas pra mim, na época, vinte e poucos anos parecia ''bem velho'') e, daquele jeito dele, me entregou o livro ''O Vermelho e o Negro'' (de Stendhal), dizendo que eu jamais poderia viver sem ler aquele livro. Graças a esse conselho terminei lendo mais de mil livros na minha vida.

Vez por outra ele me ligava no meio da madrugada e falava horas e horas, algumas coisas muito lúcidas (outras, nem tanto). Perdi o contato com ele cerca de dez anos atrás, quando tivemos um desentendimento besta, por causa de uma frase que pronunciei e ele ''me acusou'' de ferir a língua Portuguesa (tentei explicar que havia uma vírgula separando o ''pra mim'' e o ''lidar'', mas ele não quis entender). Enfim, foi uma besteira mesmo, mas na época eu era um monstro, super sensível e fiquei indignado.

Estou agora com trinta e seis anos e há seis, aproximadamente, trabalhando na Secretaria de Cultura do da Bahia, com a preservação do patrimônio cultural do estado, onde já publiquei cinco livros sobre patrimônio imaterial. Paralelamente, curso o mestrado, na Universidade Federal da Bahia, em Cultura e Sociedade. Puta merda, como eu queria que esse ''canalha'' soubesse disso tudo! Fizemos tantas farras por aqui. Cantamos juntos tantas músicas de Chico, Jobim, Edu Lobo... Li tantos livros para um dia poder me sentar com ele e conversar sem medo de decepcioná-lo... E agora ele vai e morre assim? Meu primo, ídolo e, de certa forma, mentor intelectual, Marcos Coutinho Barbosa, o ''canalha'' mais inteligente e talentoso que já conheci (como disse ontem meu irmão, ''um superdotado, inconteste'') terminou, então, a sua jornada por aqui.

Devia estar cansado. Ninguém pode correr durante todo o caminho. E ele era auto-combustão em tempo integral. Vivia numa velocidade absurda. Amava demais. Sofria demais... Nem sei quem lerá esta ''carta''. Peço, por favor, para transmitir o meu sincero pesar à viúva Maria Izabel (que só conheci por telefone) e aos filhos Matheus, Lucca e Joaquim. Por hoje chega.

Mateus Torres Barbosa

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