O projeto de revitalização da cracolândia elaborado pelo governo Gilberto Kassab (DEM) prevê transformar a área, no centro de São Paulo, no bairro com a maior população por metro quadrado da cidade.

Ocupada por prostitutas desde a década de 1930, a região concentra centenas de viciados, que fumam crack nas ruas em plena luz do dia, e é alvo de frequentes operações policiais.

A prefeitura estabeleceu como meta uma densidade populacional de 35 mil habitantes por km§§2§§ o equivalente a 17,5 mil moradores nos 500 mil metros §§2§§ da região.

O dado consta do edital --aberto ontem para consulta pública-- de contratação da empresa que fará o projeto urbanístico do novo bairro, rebatizado de Nova Luz.

O projeto, que deve ficar pronto só no segundo semestre de 2010, dirá exatamente quais tipos de prédios poderão ser feitos em cada local e terá de prever a construção de praças, centros de lazer e garagens e o alargamento das calçadas.

Com o projeto pronto, a prefeitura vai abrir licitação para escolher outra empresa que será responsável por implantá-lo.

Essa empresa terá o direito de desapropriar imóveis, mas deve fazer as obras exigidas pela prefeitura. Em troca, poderá lucrar na venda dos imóveis na área valorizada. As obras não devem começar antes de 2011.

A prefeitura não sabe exatamente quantos moradores a área tem hoje, mas estima que são entre 10 mil e 12 mil.

O índice de 350 habitantes por quadra (100 m x 100 m) foi definido, segundo o secretário de Desenvolvimento Urbano, Miguel Bucalem, para aproveitar a infraestrutura já instalada -como as redes de água e luz.

Na região, já estão o Museu da Língua Portuguesa, a Sala São Paulo e a Pinacoteca. Ainda será instalado o futuro Palácio da Dança, com projeto estimado em R$ 31,8 milhões.

Devem ser construídas cerca de 6.000 moradias na área, parte delas para famílias de baixa renda, financiadas pelo programa Minha Casa Minha Vida, do governo federal.

A prefeitura pretende estimular um maior aumento da população nas vias do entorno da cracolândia --avenidas Ipiranga, Cásper Líbero, Duque de Caxias e Rio Branco-- e na rua Santa Ifigênia.

Lapa e Barcelona

A Folha ouviu especialistas do mercado imobiliário, que consideram prematuro avaliar se o projeto terá sucesso, mas o diretor de incorporação da Klabin Segall, Silvio Chamovitz, aposta num boom de investimentos, se não houver percalços nas desapropriações.

"Visitamos outras cidades com projetos semelhantes, como Barcelona, ou mesmo o Rio, onde lançamos um projeto na Lapa, que é muito similar à cracolândia. Lá, vendemos 688 unidades em duas horas", diz.

Ele afirma, no entanto, que se não houver mudança na percepção da falta de segurança na cracolândia, será difícil convencer as pessoas a se mudar para o bairro.