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Terça-feira, 16 de julho de 2024

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TRIBUNAL DO JÚRI

Coronel se emociona ao lembrar da família e alega inocência sobre suposta ordem de execução de detento

Foto: Reprodução

Coronel se emociona ao lembrar da família e alega inocência sobre suposta ordem de execução de detento
Sendo submetido ao Tribunal do Júri nesta segunda-feira (6) por supostamente ter sido o mandante da execução de dois detentos que fugiram do presídio do Carumbé, em 1996, o secretário de Ordem Pública de Cuiabá e Coronel da Polícia Militar, Leovaldo Sales, chorou em seu depoimento à Justiça. Ele negou o cometimento do crime e se emocionou ao lembrar da família e de um episódio com a imprensa, o qual ele classifica como “tirado de contexto”.


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Ao lembrar do progresso de sua carreira, sobretudo a criação do Grupo Especial de Fronteira (Gefron), bem como de sua família que o acompanhava na sessão, Leovaldo se emocionou e chorou ao criticar a denúncia do Ministério Público.
 
“É completamente desconexa [a denúncia], chego até a questionar esta denúncia, não sei com que finalidade (...) talvez o brilhantismo da minha carreira, que foi construída com muito sacrifício, venci a pobreza e o racismo deste país e nunca precisei de cota para galgar qualquer lugar de espaço nessa sociedade, nunca precisei pedir para ninguém fazer nada errado para acobertar uma deficiência funcional minha”, lamentou.
 
Leovaldo participou da criação do Gefron e recebeu várias condecorações durante sua carreira militar. Ao lembrar de tais fatos, ele destacou que, diante de suas conquistas, jamais teria motivação para mandar matar Cláudio Andrade Gonçalves e a outra vítima, detento que não foi identificado.

O caso foi amplamente coberto pela imprensa e Sales apontou que uma de suas conversas com os noticiários foi tirada de contexto.
 
“Houve muita exploração por parte da imprensa local, até por força de uma declaração minha, num contexto absolutamente de descontração, quando dois ou 3 dias após esta ocorrência, uma repórter que cobria as matérias policias veio ao 3º batalhão, numa conversa completamente fora de um contexto de entrevista [...] não percebi que a câmera do cinegrafista estava ligada e fiquei conversando com ela, descontraído”, contou.
 
Neste dia, Sales teria dito que uma das vítimas desaparecidas “tinha virado anjo”. Porém, ao depor, afirmou que não conhecia Cláudio, tampouco que ele teria sido morto, e que a imprensa estava tentando moldar uma imagem de que ele seria uma pessoa de bem.
 
“Naquele momento parte da imprensa queria transformá-lo numa pessoa de bem, queriam transformar um ladrão... criaram uma profissão pra ele, dizendo que a polícia tinha sumido com ele e o comandante era o mandate deste crime. A colocação desta frase [virou anjo] que já me trouxe prejuízos psicológicos, morais, familiar, entre amigos, incalculáveis”, explicou.
 
Além de Sales, foram ouvidos na sessão os réus Jose Luiz Vallejo Torres, Douglas Moura Lopes, Angelo Cassiano de Camargo, Mariano Mattos do Nascimento. Outro participante do suposto crime, Antônio Bruno foi julgado e absolvido pelo Júri em 2019.
 
As defesas de Leovaldo, Mariano, Jose Luiz, Angelo e Douglas pediram extensão de tal absolvição a eles, sob argumento de que os contextos de cada denúncia são os mesmos para todos os réus. No entanto, o juiz Marcos Faleiros, titular da vara, negou os pedidos.
 
O julgamento está na fase dos debates entre as partes e, neste momento, o Ministério Público faz sua sustentação. Em seguida, a defesa dos réus se manifestará e, por fim, o Júri irá proferir a sentença.
 
Denúncia
 
O crime ocorreu em 10 de dezembro de 1996 e denúncia foi recebida em março de 2004, sendo os acusados pronunciados em 2012. De acordo com denúncia do Ministério Público do Estado (MPE), era por volta das 15h daquele dia quando ocorreu uma rebelião no Carumbé, resultando na fuga de aproximadamente 50 detentos, razão pela qual o 3º Batalhão da PM foi acionado, sob comando de Leovaldo.

Quinze presos foram recapturados na redondeza, dentre eles a vítima Cláudio Andrade Gonçalvez, que inicialmente iria ser levado ao Pronto Socorro Municipal para atendimento de emergência, já que havia sido ferido.

Ocorre que as investigações apuraram que a determinação para levar a vítima para o hospital, na verdade, era um pretexto para ocultar a real finalidade: promover a execução sumária dos presos. A ordem para tal teria partido de Leovaldo.

Viatura da PM, conduzida pelos agentes Mariano Mattos, Antônio Bruno, Ângelo Camargo, Douglas Moura Lopes e José Luiz Torres, levou as vítimas até uma estrada que acessa o município de Barão de Melgaço, onde Cláudio Gonçalves e outro detento não identificado foram executados, conforme provou laudo de necropsia.
 
No entanto, reportagem da TV Centro América mostrou que Cláudio não havia sofrido qualquer lesão que justificasse seu encaminhamento ao Pronto Socorro. Com as imagens confirmando o fato, de que a vítima teria desaparecido, a possibilidade de que ele teria sido executado começou a ser levantada.

Investigações localizaram dois cadáveres quase um ano depois, em janeiro de 1997, com sinais de execução e enterrados como indigentes em cemitério de Cuiabá. Exames confirmaram que um dos corpos era de Cláudio.

Após quase 30 anos, os defensores de Leovaldo pediram que o julgamento fosse redesignado. No entanto, o magistrado indeferiu o pleito, confirmando o dia 6 de novembro de 2023 como a data para que o ex-comandante seja submetido ao Júri.
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