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Domingo, 30 de junho de 2024

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OPERAÇÃO SIMULACRUM

Veja nomes dos PMs denunciados por suposta milícia que atuou em execuções sumárias durante 'falsos confrontos'

Foto: Reprodução

Veja nomes dos PMs denunciados por suposta milícia que atuou em execuções sumárias durante 'falsos confrontos'
Execuções sumárias travestidas de confrontos, ações de milícia, chacinas e 231 homicídios praticados por militares entre 2015 e 2023: Operação Simulacrum denuncia 17 PM’s e um segurança particular pela morte de Mayk Sanchez Sabino e tentativa de Rômulo Silva Santos. Nas 22 páginas de acusação, cinco promotores de Justiça apontam a conivência do comando da PM e a intenção dos envolvidos em se promoverem na corporação. Os denunciados compõem batalhões do Bope, Rotam e Força Tática.


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Assinaram a denúncia os promotores Vinicius Gahyva, Samuel Frungilo, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria e Jorge Damante Pereira.

Foram denunciados Altamiro Lopes da Silva, Antonio Abreu Filho, Ariel Covatti, Diogo Fernandes da Conceição, Genivaldo Aires da Cruz, Heron Teixeira Pena vieira, Icaro Nathan Santos, Jairo Papa da Silva, Jonathan Carvalho de Santana, Jorge Rodrigo Martins, Leandro Cardoso, Marcos Antonio da Cruz, Thiago Satiro Albino, Tulio Aquino monteiro da Costa, Vitor Augusto Carvalho Martins, Wesley Silva de Oliveira, Paulo Cesar da Silva e o segurança Ruiter Candido da Silva.

Mayk Sanches Sabino e Rômulo Silva Santos

No dia 25 de maio de 2020, uma operação policial em Cuiabá e Várzea Grande culminou em uma emboscada mortal, resultando na morte de Mayk Sanches Sabino e na tentativa de homicídio de Rômulo Silva Santos e outras duas pessoas não identificadas. O caso, que envolve 18 militares, foi objeto da denúncia do Ministério Público no âmbito da Operação.

O plano teve início com o segurança Ruiter Cândido da Silva, acusado de ser o batedor do grupo e a pessoa que delatou todo esquema, que entrou em contato com Valmir de Souza Oliveira, um conhecido comparsa de José Luiz da Costa, conhecido como "Seu Zé", para organizar um roubo fictício a uma mineradora. A ideia era atrair criminosos para um assalto planejado, onde supostamente haveria valores e ouro para serem subtraídos.

Ruiter se encontrou com os comparsas no ponto final do bairro Três Barras, dirigindo um VW/Gol branco, guiando-os para o local do roubo, onde estariam os militares aguardando para realizar a emboscada.

No dia do crime, as vítimas foram atraídas para a estrada de acesso à comunidade São Jerônimo, no distrito de Coxipó do Ouro, onde os militares estavam posicionados. Quando o Fiat Strada e a caminhonete Hilux chegaram ao local, os militares abriram fogo contra o Fiat, matando Mayk Sanches Sabino. O passageiro conseguiu fugir pelo mato.

A caminhonete Hilux tentou escapar, mas foi interceptada pelos militares escondidos. Rômulo Silva Santos, um dos ocupantes, foi baleado e perdeu metade do dedo. A identidade do outro ocupante ainda não foi revelada.
O Comandante da ROTAM, Paulo Cesar da Silva, também teve participação confirmada através de áudios e registros que mostraram seu envolvimento direto no planejamento e execução da emboscada, conforme o documento.

Simulacrum
 
Na denúncia, o MPE sugeriu à Justiça a ordem cronológica de alguns episódios que denotam tais execuções. A primeira em outubro de 2017, na região da Rodoanel, em, Cuiabá, quando três indivíduos em suposta atitude suspeita foram mortos pela Rotam, em situação de forjado confronto.

Em outubro de 2019, no KM 22 da MT 351, que liga Cuiabá ao Manso, cinco pessoas foram abordadas e mortas pela Rotam, na mesma situação.

Em maio de 2020, em estrada que acessa o Morro de São Jerônimo, próximo da Ponto de ferro, 7 pessoas em suposta atitude suspeita foram abordadas em ação conjunta da Bope e Rotam, sendo que um foi morto e outro ferido, e os demais fugiram.

Em junho de 2020, na MT 351, abordagem da Rotam culminou em quatro mortes após abordagem de cinco suspeitos. Um mês depois, nas proximidades do condomínio Belvedere, em Cuiabá, oito foram abordados e seis mortos pelo Bope, em alegado confronto.

Em outubro, na região de Bom Sucesso, perto da estrada que liga o Bairro Souza Lima, em VG, quatro foram mortos pela Força Tática da Polícia Militar. “Os fatos apurados resultaram em 23 homicídios consumados, afora as nove vítimas que conseguiram se evadir com vida”, diz trecho da denúncia.

Entre 2015 e 2023, a região metropolitana de Cuiabá e Várzea Grande registrou 231 homicídios cometidos por policiais militares, evidenciando uma preocupante escalada de letalidade, segundo a acusação.

Em 2023, mais de um terço dos homicídios na região foram perpetrados por policiais, sublinhando a necessidade urgente de intervenção do Sistema de Justiça para conter esta sangria que, conforme os promotores, vitimiza principalmente jovens das periferias, geralmente pobres e negros.

A denúncia detalha que, entre 2017 e 2020, diversos casos de supostos "confrontos" resultaram em mortes que, na realidade, foram execuções sumárias. A guarnição da ROTAM e do BOPE, principais unidades envolvidas, frequentemente relataram situações de confronto que, segundo laudos periciais, não condiziam com os fatos.

Os peritos revelaram que os locais dos crimes foram alterados e provas suprimidas, incluindo disparos não condizentes com tiroteios e lesões que indicavam tiros à queima-roupa.

O grupo operava com a ajuda de um segurança chamado Ruiter Candido da Silva, que cooptava vítimas sob o pretexto de realizarem assaltos lucrativos. Essas vítimas eram então levadas para emboscadas armadas pelos policiais, onde eram executadas sumariamente. As investigações revelaram que em muitos casos, veículos utilizados pelos supostos criminosos eram alvejados por dezenas de tiros, sem qualquer disparo de volta.

A denúncia aponta que houve esforços significativos para alterar cenas de crimes e suprimir provas. Arquivos de monitoramento por vídeo foram deletados, armas e munições foram trocadas para dificultar a análise balística, e superiores hierárquicos demonstraram conivência ao obstruir investigações.

Transferências de policiais para unidades do interior do estado foram utilizadas como uma tática para dificultar as apurações.

A denúncia da Simulacrum chegou a culminar na prisão preventiva dos 12 policiais diretamente envolvidos e a substituição dos encarregados das investigações. Contudo, a PMMT não tomou as medidas necessárias no momento apropriado, permitindo que o grupo continuasse suas operações criminosas. Esta omissão resultou em mais mortes e perpetuou a cultura de violência dentro da corporação.
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