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Terça-feira, 25 de junho de 2024

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CASO MAIANA MARIANO

Mãe depõe sobre morte e pede que suspeitos saiam de sala no fórum; "Nunca esqueça que eu te amo", disse filha

18 Out 2016 - 10:28

Da Reportagem Local - Paulo Victor Fanaia Teixeira

Foto: Arquivo pessoal

Maiana Mariano

Maiana Mariano

Segurando o choro a todo instante, Sueli Cícero Mariano, mãe de Maiana Mariano, assassinada por asfixia em dezembro de 2011, foi a primeira a ser ouvida no Tribunal de Júri que acontece nesta terça-feira (18), no Fórum da Capital, em Cuiabá. “O sonho de Maiana era estudar e se formar”, lamenta a mãe, que aguarda o desfecho do caso há cinco anos. Ela preferiu falar em juízo sem a presença dos assassinos na sala. Olhar Jurídico acompanha a audiência:


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A ossada só foi encontrada cinco meses após o desaparecimento. Devido aos requintes de crueldade e pela frieza dos acusados, o caso teve abrangente repercussão midiática e grande comoção popular.

Confira abaixo, de minuto em minuto, o depoimento dos réuis:  

11h00:


Antônia da Silva Amorim, 65 anos, professora aposentada, foi a quinta a ser ouvida nesta manhã. Ela é mãe do suspeito Rogério. Ela diz que o réu já estava separado quando começou sua relação com Maiana Mariano.

Nessa época, Rogério morava com a mãe. Diz que o relacionamento entre os três era bom, embora tivesse convivido pouco com a vítima, por conta do serviço. “Nunca vi eles brigarem”, declara, em seguida ela confirma que Rogério a sustentava financeiramente.

Ela não sabe afirmar se Rogério mantinha relações com outras menores do bairro.

“Ouvi ela falando que ia pagar (o chacareiro)”, confirma. A testemunha diz que a chácara ficava no interior do bairro três Barras, mas não sabe quem exercia a função de chacareiro. Não sabe dizer se Maiana frequentava o local.

No dia do crime, a testemunha ficou em casa. Diz que Maiana foi à sua casa e almoçou. Neste dia, ao contrário do que ocorria normalmente, Rogério foi almoçar em sua casa, por volta de meio dia. Já pelas duas da tarde ela saiu para trocar o cheque e entregar para o chacareiro. A mãe confirma ter visto Rogério entregando o cheque e dando instruções do procedimento bancário.

Rogério teria solicitado que a mãe fosse até o banco e à chácara, mas Maiana não aceitou pois queria ir com a moto que ganhara e porque estava chovendo. “Ela falou ‘não, não, eu vou sozinha’”, diz a testemunha, citando fala da vítima. Depois disso, “não fiquei sabendo de mais nada”, concluiu.

Rogério teria saído e voltado para casa da mãe às 18h. Seu carro estava, segundo a própria, em uma revisão. Quem teria buscado o carro era Luiz, ex-funcionário da empresa.

Ainda por volta das 18h, Rogério perguntou à sua mãe sobre Maiana, mas ninguém sabia dela. “Geralmente ela ligava para nós”, afirma, e acrescenta que a vítima avisava quando havia de atrasar. A testemunha afirma que viu Rogério tentando contato com Maiana. “Depois saímos para procurar”. A juíza lança ideia de locais onde eles poderiam ter procurado por ela, incluindo a chácara onde Maiana fora. Revela também que neste dia não acionaram a delegacia.

“Ela era agitada, muito novinha, não é, agitada... estava muito preocupada com os estudos”.
A mãe de Rogério nega que eles tivessem tido algum desentendimento e, pelo contrário, Rogério pensava em se casar com a vítima.

“Depois que saia da escola ele (Paulo) fazia serviço para Rogério. Pedreiro... ele fazia qualquer tipo de serviço... vigilante, pedreiro...”, diz a testemunha sobre o réu Paulo Martins.

O MPE lembra que Paulo já havia sido preso por roubo e que a vítima foi morta próximo ao local onde a testemunha trabalhava, em uma escola.

10h45:

A defesa dos réus e a defesa da família da vítima, que assiste à acusação do MPE, entram em um bate-boca. A defesa da família ironiza que a defesa de Paulo está fazendo defesa para Rogério também. O debate é finalizado após ordem da juíza, que pede respeito.

A estudante Alana Camila Martins Amorim, 23 anos, é a quarta a ser ouvida nesta manhã.

Ela era amiga de Maiana Mariano. Se conheceram em outubro de 2011. Na época, Maiana comentou que morava junto, praticamente casada com Rogério. “Ela só elogiava. Gostava muito do Rogério, falava dele o dia todo, não tinha o que reclamar dele”, afirma.

Alana Camila falou com Maiana um dia antes de sua morte. “Ela disse que ia passar o natal em uma chácara com Rogério e que eles iam à praia. Disse que ia ao Itaú sacar cheque para dar R$ 400 ao caseiro da chácara e ficaria com R$ 100 para comprar uma sandália no shopping”.

9h: “A gente ficava imaginando tudo enquanto ela estava desaparecida”, diz a mãe.

A defesa de Paulo, em seguida, lembra que o primeiro namorado de Maiana, identificado como Michael, teria conduta violenta no bairro onde moravam, tendo algumas passagens pela polícia. A mãe da vítima desconhece o fato e alega não conhecer Michael.

“Maiana sempre foi uma menina boa”, diz Suely quando questionada se ela era uma “jovem rebelde”.

“Eu nem sabia que Rogério era casado, Rogério falou para mim que não era casado!”, disse a mãe quando questionado se ela tinha conhecimento de uma quitinete montada para eles quando o suspeito terminou seu casamento. Ela desconhece.

“O relacionamento tinha sua anuência, a senhora permitia?”, questiona a defesa. A mãe exclama. “Mesmo se eu negasse, eles iam continuar juntos!”.

Sem perguntas dos jurados, o depoimento se encerrou às 9h07.

A segunda a ser ouvida nesta manhã é Poliana Martins, 33 anos, "prima por consideração" de Maiana Mariano, com quem dividiu a casa em 2006.

Diz que Rogerio iniciou seu namoro com a vítima quando ela estava próxima de completar 16 anos. “De início, pela diferença de idade, achei que não seria 100% certo, mas achei normal”.

“Nos últimos dias eu fiquei sabendo que eles estavam namorando e a mãe dela falou que elas estavam terminando”, narra Poliana, que encorajou a jovem a terminar o relacionamento.

“Por último, ela estava morando com ele, ele estava alugando um apartamento e eles viviam juntos”, conta a testemunha à juíza.

“Ela era carinhosa, eu vi ela crescer, ela era ingênua, uma criança, ela acreditava nele (Rogério) e não vejo que ela era uma ameaça na vida dele, de forma alguma”, lamenta a testemunha. “Ela estava apaixonada por ele”.

Maiana “respeitava muito a família de Rogério”, mas “foi engana de forma bem traiçoeira”, revela a testemunha.

“Ela não era adiantada, era adolescente, tinha sonhos, era uma menina, recém descobrindo as coisas”, diz Poliana, que acrescenta, “eu falei para ela que eu não gostei, que ela era muito mais nova que ele, muito mais bonita”.

“Ele (Rogério) dava as coisas para ela, presente, comprava as coisas e ela queria ter”, disse ao MPE, quando questionada se o suspeito fazia compras para conquistar a vítima.

O terceiro a ser ouvido foi Danilo Paulo Vilela, irmão de Maiana Mariano, que narra que ficou sabendo tardiamente do namoro. “Quando soubemos já tinha seis meses a um ano, escondido, ela tinha 14 anos de idade. "Nós não queríamos, mas ela estava perdidamente apaixonada por ela. Mas o que a gente poderia fazer?”.

“Minha mãe viajou para o Paraná e então o Rogério, com outros dois, decidiram matar ela”, afirma Danilo. Que segue. “Nunca teve problema com ele. Até então ele era um príncipe para ela, mas então se mostrou um cordeiro”. Ele explica que o suspeito rastreava a menina, indo atrás e buscando saber, à cada instante, onde ela morava.

“Minha irmã era uma pessoa excelente”, diz Danilo sobre Maiana.

Sobre o desaparecimento, o irmão diz que ela jamais fez isso, que sempre avisava sua mãe sobre seu paradeiro.

“Minha irmã amava o Rogério”, lamenta o irmão.

Sobre a mãe, Suely, diz que ela sempre se sustentou e nunca precisou de ajuda financeira.

“Minha irmã (Maiana) via ele (Rogério) como um pai, pois ela nunca teve um pai. Ele estava apenas articulando a artimanha dele”, revolta-se Danilo.

O irmão diz que Rogério foi procurá-lo somente dois dias depois do desaparecimento de Maiana, fato que ele estranha, pois seu serviço ficava em frente à casa da família da vítima.

Ele confirma a impressão que Poliana também teve, de que Rogério simulava estar preocupado e que fingia estar procurando pela Menina, quando desaparecida. Ao longo do período de buscas pelo corpo, que durou cerca de cinco meses, a família de Rogério fazia conjecturas variadas. Diziam que ela estava em São Paulo ou em outra cidade, sendo prostituída ou apenas viajando. Informações que nunca foram comprovadas, lembra Danilo.

Até o fatídico dia em que contaram ao irmão que encontraram o corpo de Maiana. Ele foi ao local e lá viu Paulo (réu) confessando: “Eu matei à mando do Rogério. Esse assassino, mandante!”, exalta-se a testemunha.
Fora Paulo quem indicou a localização do corpo, a 16km do bairro Dr. Fábio, diz Danilo, que reforça que o crime fora cometido à mando de Rogério. Depois do fato, “ele nem apareceu para dar uma justificativa”, diz, referindo-se a Rogério.

A testemunha diz que não conhecia Paulo. À defesa deste, Danilo diz que ele aparentava estar tranquilo no dia da identificação do corpo e que não aparentava estar sendo agredido ou forçado a admitir o crime.
À defesa de Rogério, afirma que o suspeito tratava Maiana bem, “como uma princesa”.

Questionado, Danilo admite ter conhecimento de que Rogério era investigado pela polícia. Ele recebia notícias pessoalmente dos investigadores policiais. “Eles iam até nós”.

8h01: A vítima e o suposto mandante eram vizinhos, amigos de rua, no bairro. “Rogério a levava para tomar sorvete, para passear”, salienta a mãe.

Quando estava em época de prova, no curso que fazia, vivia na casa da mãe do suspeito Rogério, que pretendia se casar com a vítima.

A mãe de Maiana chegou a conversar com o suspeito, que afirmou não possuir família. Maiana tinha 16 anos na época do crime.

De acordo com a mãe, Maiana não conseguia estudar em sua casa, pois possuía goteiras que a impedia de estudar. Rogério teria providenciado um quarto na casa da sogra de Maiana, para que ela pudesse estudar. Um quarto foi montado para a vítima, que chegou a ganhar um notebook.

“Pode ficar tranquila, Maiana, no seu aniversário de 16 anos vou te dar um presente bem bom”, prometeu Rogério, que no dia do aniversário, deu uma motocicleta para a vítima. A mãe diz que chegou a chorar, preocupada, pois a vítima não possuía carteira. O suspeito disse para não se preocupar. “Eu garanto”.

Maiana estudava de manhã e fazia curso no Senai pela tarde. De manhã ia a pé para escola, pela tarde, pegava carona com Rogério, seus parentes e às vezes com seus amigos.

“A gente era muito apegada, mas a partir do momento que ela conheceu ele, ela não ligava mais tanto para mim”, revela a mim.

Questionada, a mãe diz que na época do crime o “relacionamento (entre Maiana e o suspeito Rogério) estava muito bem”.

A mãe relata que em determinado dia precisou viajar para ver sua mãe que começou a sofrer de mal de Alzheimer. Maiana se prestou a pedir ajuda de Rogério para comprar uma passagem para o Paraná.

“Rogério vai te dar R$ 500 para você ir ver a vó, está bem?”, ofereceu Maiana. A mãe aceitou. A vítima não foi junto, pois precisava estudar. “Nunca esqueça que eu te amo”, disse Maiana ao se despedir. “Eu viajei no dia do meu aniversário, e nunca mais vi minha filha”, conta a mãe.

Maiana chegou a ligar para a mãe para repetir a frase. “Não se esqueça que eu te amo”.

No decorrer da viagem, tentou ligar para a filha, que já não atendia mais. A mãe só falaria com Rogério 04 dias depois. No momento da viagem, a fatídica notícia partiu de seus parentes: a jovem estava desaparecida. “Meu filho ligava o tempo inteiro”.

Rogério registrou B.O de desaparecimento da menina, no dia seguinte. O mesmo afirma que a jovem tinha o hábito de sumir. A mãe desmente. “Isso não é verdade”.

Rogério chegou a oferecer passagem de retorno para a mãe. “Não procura ninguém quando você chegar a Cuiabá. Fala primeiro comigo”, teria alertado o suspeito.

“Rogério, cadê minha filha?”, disse a mãe chegando a Cuiabá. “Sua filha deve ter arranjado um namorado mais rico que eu”, respondeu Rogério, “mas fica tranquila que uma hora ela vai aparecer”.

“Eu tive que vender minha casa no CPA para enterrar minha filha”, revela a mãe.

Rogério não se propôs a ajudar no funeral. “Não fala nada, fica quieta, inclusive na imprensa”, dizia Rogério nos raros momentos em que encontrava a mãe da vítima, que passou a evitá-lo, enquanto procurava ajuda da imprensa nas buscas.

De acordo com a mãe, Rogério tinha fama de se envolver com meninas no bairro Três Barras, pagando sorvete e galanteando. “Ele tem essa conta é com a justiça e com Deus, não comigo”, diz a mãe.

A mãe nega que Maiana fizesse serviços bancários para o suspeito, uma vez que este possuía empregados. Suely revela que pôs sua casa a venda e que a primeira pessoa que ligou querendo comprar foi Rogério, mas o negócio não foi fechado. Na época a mãe não sabia que ele era suspeito do crime.

Ao MPE, a mãe confirma que Maiana se relacionava com a vítima desde 2011. A descobriu o relacionamento quando viu dinheiro em espécie na bolsa da menina, era presente de Rogério. Na época, o suspeito já tinha uma filha.

A mãe admite que o suspeito cortejava sua filha desde seus 13 anos. Entretanto, não crê que tenha havido relacionamento nessa época, mas imagina que ele já planejava “pegar ela”, diz a mãe. “Era uma criança”, sua assusta ao imaginar.

A mãe diz que ligou diversas vezes para Rogério no dia do desaparecimento, mas não conseguiu contato. Falou apenas com seu filho.

A mãe da vítima narra que quando chegou a Cuiabá decidiu ir direto para a delegacia, sem aguardar por Rogério. Este ligou para ela, questionando. Ao saber onde a mãe estava, exclamou: “Tal mãe, tal filha!”. Ao saber que a Suely iria levar o caso à imprensa, disse que não valia a pena “que era para ir para casa, esperar”.

“Ele não queria que eu ficasse procurando, que era para ficar calma que ela ia aparecer, não era para criar desespero que tudo ia ficar bem. Que vivesse minha vida normalmente que tudo ia ficar bem”, disse Suely.

“No começo ela estava bastante alegre, mas depois ela já não falava muito comigo”, disse a mãe, que lembrou que sua filha sempre fora boa aluna e que, às vezes, necessitava da ajuda da família de Rogério nos exercícios de escola. “Eu não podia ajudar”, lamenta a mãe. “O sonho de Maiana era estudar e se formar”, lembra.

“Mãe, o Rogério me falou para você me emancipar”, teria dito Maiana a Suely. Que chegou a vir ao Fórum para tratar disto, mas sem sucesso. O objetivo, segundo a mãe, era garantir que ela pudesse trabalhar e se casar, quando formada, quando fosse “alguém na vida”.

A defesa de Paulo tenta imputar a ideia de que houve, de alguma forma, exploração sexual da menina Maiana. A mãe nega qualquer fato relativo a isso. Nega também que saiba que Rogério tivesse comprado um apartamento para a vítima. Nega também que tivesse solicitado que a jovem pedisse uma moto, de presente à Rogério.

Em resposta à defesa de Paulo, a mãe admite que consumia maconha no período em que Maiana morava com ela. A defesa segue questionamento se a mãe sabia de algum fato envolvendo prostituição por parte da vítima, a mãe nega. Questiona se ela frequentava boates e bailes de funk, também nega.

Caso Maiana:


Maiana Mariano, 16, desapareceu no dia 21 de dezembro de 2011. Segundo o MPE, Rogério deu um cheque de R$ 500,00 para a jovem descontar. Deste valor, R$ 400,00 seriam destinados ao pagamento de um caseiro de uma chácara, o qual ela seria responsável por fazer.

Chegando ao local, entregou o dinheiro a Paulo, contratado por Rogério para matá-la. Após o assassinato, com o auxílio de Carlos Alexandre, colocaram o corpo em um carro e o levaram até o mandante do crime para que reconhecesse o cadáver e comprovasse que a morte da jovem com quem mantinha um relacionamento extraconjugal era um fato consumado.

Posteriormente, o corpo foi enterrado em uma área afastada, na estrada da Ponte de Ferro. E só foi encontrado pelos policiais cinco meses após o desaparecimento.
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