Delações premiadas no âmbito da “Operação Sodoma 4” apontam para um pacto de silêncio formado entre os principais articuladores que teriam, somente nesta fase, promovido fraude de R$ 30 milhões. De acordo a denuncia, cuja inicial fora protocolizada no dia 15 de outubro, na Sétima Vara Criminal, a ordem era clara: “aguentar a pressão” e “morrer negando”.
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A tese da acusação costa do quinto tópico da denuncia do Ministério Público Estadual (MPE), intitulado: “Do pacto de proteção da organização criminosa”. Ela é baseada nas delações do ex-presidente do Instituto de Terras de Mato Grosso (Intermat), Afonso Dalberto, e dos ex-secretários de Administração, César Zílio e Pedro Elias, além das confissões de Pedro Jamil Nadaf, ex-chefe da Casa Civil.
A denúncia aponta para a “existência de mecanismos utilizados pela organização criminosa para garantir que sua existência e atuação não fosse revelada pelos membros que, além de manter rigoroso silêncio, deveriam adotar cautela para ocultar a natureza do ganho ilícito e medidas para afastar qualquer "suspeita sobre seus membros”.
De acordo com Nadaf, a tratativa ia além de um simples acordo de cavalheiros, chegando às ameaças verbais. Segundo o próprio, “constantemente escutavam as seguintes advertências: “homem de boca mole vira comida de formiga”, “quem tem cú, tem medo”e “quem tem boca fechada não entra formiga”.
O MPE cita denuncia feita por Nadaf em face de Silvio César Corrêa Araújo, ex-chefe de gabinete de Silval, que ainda no Centro de Custódia da Capital (CCC) teria afirmado que César Zílio e Pedro Elias “iriam morrer logo, fazendo nos momentos em que realizava tais afirmações gestos com os dedos simulando disparos de arma de fogo, se referindo ao fato de tais ex-secretários estarem colaborando com a justiça, bem como desconfiando que o interrogando já estava negociando sua delação premiada”.
As afirmações de Afonso Dalberto corroboram com as trazidas por Nadaf. O ex-presidente do Intermat diz que Marcel de Cursi “lhe dizia para ‘aguentar pressão’ e que ‘morresse negando’ sem falar o que sabia, chegando a dizer que delação premiada era a ‘maior fria’, a ‘pior coisa do mundo’, orientando-o a nem sempre ouvir seus advogados e estudar seu processo a fim de se defender”.
Por fim, Filinto Muller cita uma frase supostamente dita com frequência por Francisco Lima Filho (vulgo “Chico Lima”), procurador aposentado: “cadeia era lugar para homem, que ele poderia até ser preso por alguns dias, mas com dinheiro no bolso”.
Operação Sodoma 4:
As diligências realizadas evidenciaram que o pagamento da desapropriação do imóvel conhecido por Jardim Liberdade, localizado nas imediações do Bairro Osmar Cabral, nesta capital, no valor total de R$ 31.715.000,00 à empresa Santorini Empreendimentos Imobiliários Ltda, proprietária do imóvel, se deu pelo propósito específico de desviar dinheiro público do Estado de Mato Grosso em benefício da organização criminosa liderada pelo ex-governador do Estado de Mato Silval da Cunha Barbosa.
De todo o valor pago pelo Estado pela desapropriação, o correspondente a 50%, ou seja, R$ 15.857.000,00 retornaram via empresa SF Assessoria e Organização de Eventos, de Propriedade de Filinto Muller em prol do grupo criminoso.
De acordo com a investigação, a maior parte do dinheiro desviado no montante de R$ 10.000.000,00 (dez milhões de reais) pertencia ao chefe Silval Barbosa, ao passo que o remanescente foi dividido entre os demais participantes, no caso os ex-secretários, Pedro Nadaf, Marcel De Cursi (ex-secretário de fazenda), Arnaldo Alves de Souza Neto (ex-secretário de Planejamento), Afonso Dalberto e o procurador aposentado Chico Lima.
Foram denunciados: O ex-governador Silval Barbosa, Marcel de Cursi, Pedro Jamil Nadaf, ex-secretario chefe da Casa Civil, Francisco Gomes de Andrade Lima Filho, procurador de Estado aposentado, Arnaldo Alves de Souza Neto, ex-secretário de Planejamento, Afonso Dalberto, ex-presidente do Intermat, Antônio Rodrigues Carvalho, advogado Levi Machado, o empresário Valdir Piran, Karla Cecilia de Oliveira Cintra, assessora da Fecomércio e José de Jesus Nunes Cordeiro, ex-secretário adjunto de Administração.
Ainda Sílvio Cezar Corrêa Araujo, ex-chefe de gabinete de Silval Barbosa, Pedro Elias Domingos de Mello, ex-secretário de Administração, Rodrigo da Cunha Barbosa, filho do ex-governador, Cesar Roberto Zilio, ex-secretário de administração, Alan Ayoub Malouf e João Justino Paes de Barros, ex-presidente da Metamat.