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Quarta-feira, 24 de julho de 2024

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​FOGO AMIGO

"Terem inventado o confronto é algo que nós entendemos como grave”, diz comandante do Bope sobre morte de Scheifer

Foto: Rogério Florentino / Olhar Direto

O tenente coronel Ronaldo Roque, atual comandante do Batalhão de Operações Especiais (Bope), afirmou em depoimento que a invenção de que o tenente Carlos Henrique Scheifer teria morrido em um confronto com bandidos é algo grave para a corporação.


Ele, no entanto, disse ser possível que o tiro que o cabo Lucélio Gomes Jacinto disparou contra Scheifer tenha sido acidental. Jacinto, bem como os também réus sargento Joailton Lopes de Amorim e cabo Werney Cavalcante Jovino, ainda devem ser ouvidos pela Justiça.
 
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O tenente coronel Roque não era comandante do Bope à época da morte de Scheifer. Ele disse que desde que assumiu o cargo, por tudo que lhe foi relatado, não viu qualquer mácula na carreira de Jacinto, Lopes e Jovino. Ele afirmou ser possível que o tiro que matou Scheifer ter sido acidental, e mesmo com o treinamento que tiveram, a postura adotada pelos militares não é estranha.
 
“Uma coisa é quando treina, outra coisa é quando está tomando tiro mesmo. Eu já vi oficiais reagirem de forma totalmente diferente do que foi treinado, então cada um reage de uma forma. O que condizia naquele momento era responder fogo e resgatar o companheiro, é isso que a gente espera”.
 
Nenhum dos três militares, no entanto, efetuou qualquer outro disparo, além do que feriu Scheifer. Os três, a princípio, disseram que o tenente havia sido alvejado por um dos bandidos que foram perseguir no distrito de União do Norte. A perícia depois comprovou que Scheifer morreu por um tiro que saiu da arma de Jacinto. Para o comandante, isto é algo grave.
 
“Eu tenho que falar como Comandante do Bope. Quanto à questão do homicídio ou não, eu não tenho subsídio para afirmar se houve intenção ou não [por parte de Jacinto]. As percepções que tive foram essas que passei. Mas o fato de terem inventado o confronto é algo que nós entendemos como grave para a unidade, por conta de ir contra o que pregamos, dos princípios que adotamos”.
 
O comandante ainda disse que não acredita que Jovino e Lopes teriam tramado a morte de Scheifer juntamente com Jacinto, como defende o Ministério Público.
 
“Eu não Consegui vislumbrar a possibilidade dos dois terem macumunado com o Jacinto para matar o tenente. Se o Jacinto quis matar eu não posso falar que sim nem que não, mas que os dois quiseram macumunar não vi indícios. Só que eles terem inventado o confronto é algo grave”.
 
O tenente coronel ainda disse acreditar que Jovino e Lopes aceitaram defender a versão de que Scheifer teria sido baleado por um bandido em decorrência do vínculo que desenvolveram com Jacinto.
 
“Eu não acredito que fecharam nessa versão por medo do Jacinto, mas essa relação de operar junto e de colocar sua vida em risco Juntos, acaba proporcionando esse vínculo de proteção, e eu posso até afirmar que o erro foi aí, o erro dos dois [Jovino e Lopes]. Eu falo isso porque qual o problema que teria em admitir que cometeu erro?”.

Os relatos
 
As cinco testemunhas de acusação ouvidas no último mês de abril relataram o cenário em que se deu a morte de Scheifer. A equipe do Bope, integrada pelos militares Lucélio Gomes Jacinto, Joailton Lopes de Amorim, Werney Cavalcante Jovino e chefiada por Carlos Henrique Scheifer, teria ido ao distrito de União do Norte, próximo a Peixoto do Azevedo (695 km de Cuiabá), em maio de 2017, para atuar em uma operação contra uma quadrilha de roubos a banco, na modalidade novo cangaço.
 
De acordo com os relatos, a equipe de Scheifer foi de aeronave até a localidade e pouco depois que chegou teria recebido informações, de um suspeito que foi abordado em um posto de gasolina, sobre o local onde estariam alguns dos membros da quadrilha.

A equipe de Scheifer teria ido até esta residência informada e lá teriam realizado a abordagem que resultou na morte de Marconi Souza Santos, isso por volta do meio-dia. Jacinto teria sido o autor do disparo que matou Marconi, justificando que o suspeito estaria armado.
 
Segundo o tenente Herbe Rodrigues da Silva, que testemunhou, uma arma foi encontrada do lado de dentro da casa, nos fundos, enquanto o corpo de Marconi teria sido encontrado do outro lado do muro, fora da propriedade. Herbe disse que ele próprio entregou a arma a Scheifer.
 
Outras equipes da Polícia Militar, de regiões próximas, foram acionadas para dar apoio a esta operação. O soldado Vizentin, que auxiliava no recolhimento dos materiais abordados, disse à Justiça que teria visto o cabo Jacinto andando de um lado para o outro, nervoso, e dizendo “este tenente é muito legalista”, se referindo a Scheifer.

Os policiais localizaram um veículo, que seria dos suspeitos, que foi abandonado em uma região de mata. Já no período da tarde, a equipe do tenente-coronel Jonas Puziol foi juntamente com a equipe de Scheifer até o local onde estava o veículo, e lá Scheifer teria pedido a ele que fosse embora do local e levasse a viatura do Bope, na tentativa de simular para os bandidos que a polícia teria deixado o local.
 
Momentos mais tarde os policiais da região começaram a receber por rádio a informação de que um policiai estava ferido, e pediam informações sobre o hospital mais próximo. De acordo com as testemunhas, Scheifer teria chegado ainda com vida ao hospital, em Matupá, mas logo veio a óbito.
 
Em seu depoimento o sargento Antônio João da Silva Ribeiro teria dito que, no hospital, os três membros do Bope teriam ido sozinhos a uma sala, onde conversaram. Ele disse que os três aparentavam estar abalados, mas quando tentou se aproximar, para saber como se deu a morte de Scheifer, Jacinto teria dito para que ele se afastasse.

Os integrantes do Bope então teriam inventado a versão de que Scheifer teria morrido pelo tiro de um suspeito, o que foi desmentido depois pela perícia. Os policiais militares ouvidos ainda relataram que eram impedidos de ir ao local onde Scheifer morreu, por outros membros do Bope que já estavam no local, por que seria uma região de risco. Os militares que foram ouvidos ontem também disseram que desde o início desconfiavam da versão dada pelos três policiais do Bope.
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