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Quarta-feira, 18 de setembro de 2024

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Antônio Gomes da Silva

Pedreiro que confessou execução de Zampieri e livrou os demais réus promete 'entregar' os detalhes finais do caso no júri

Foto: Olhar Direto

Pedreiro que confessou execução de Zampieri e livrou os demais réus promete 'entregar' os detalhes finais do caso no júri
A defesa do pedreiro Antônio Gomes da Silva, que confessou ser o autor dos dez tiros que ceifaram a vida do advogado Roberto Zampieri, em dezembro de 2023, manifestou à 12ª Vara Criminal de Cuiabá, onde o processo tramita, que que a estratégia defensiva nas alegações finais será exposta durante o julgamento do Tribunal do Júri. Manifestação foi anexada nos autos nesta terça-feira (17).


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“Isto posto, em sendo o ora Denunciado pronunciado a Defesa irá apresentar sua tese e estratégia no plenário por ocasião da sessão de julgamento”, anotaram os advogados Neyman Augusto Monteiro e Nilton Ribeiro de Souza.

Durante a primeira audiência do caso, ocorrida em julho, Antônio admitiu ser o autor dos dez tiros que resultaram na morte do advogado, mas afirmou que nem o veterano do exército e instrutor de tiro, Hedilerson Barbosa (acusado de ser o intermediador), nem o Coronel Etevaldo Caçadini (financiador) tiveram qualquer envolvimento no crime. Ele também isentou o produtor Aníbal Laurindo, de 74 anos, indiciado neste mês como o principal mandante do assassinato.

Ao ser questionado pelo advogado de defesa sobre quem seria o mandante do crime, disse que iria revelar apenas no Tribunal do Júri, por temer por sua vida e saber com quem estava mexendo.

“Doutor, em garantia da minha vida, eu prefiro não falar porque sei com quem estou mexendo. Rechaço a participação do Hedilerson, do Coronel e de Aníbal”, disse, emendando ainda que foi coagido pelos delegados da Polícia Civil que estavam à frente da investigação. 

Ele declarou que Hedilerson, dono da arma, não tinha conhecimento do plano para assassinar o advogado e também não sabia que sua arma seria usada no crime.

"Eu envolvi ele porque estava sendo pressionado", afirmou. Segundo a denúncia do Ministério Público, o trio havia planejado matar o advogado a marretadas. No entanto, devido a demora de Antônio em tirar o plano do papel, planejaram outro medo. 

Antonio relatou ao juiz, aos advogados e promotores que convidou Hedilerson de Minas Gerais para Cuiabá na intenção de utilizar sua arma, uma vez que ele possuía o Certificado de Registro de Arma de Fogo (CAC). Mas tudo isso, sem o conhecimento do seu amigo”. 

Razões ministeriais

Em sede de razões finais, de outro lado, o Ministério Público pediu a pronúncia do trio. Os memoriais foram assinados no dia 9 de agosto pelos promotores de Justiça do Núcleo de Defesa da Vida, Samuel Frungilo, Marcelle Rodrigues da Costa e Faria, Vinicius Gahyva Martins e Jorge Paulo Damante Pereira.

Eles pediram que o coronel Etevaldo, Antonio e Hedilerson sejam submetidos ao julgamento perante o júri popular pelo homicídio qualificado do advogado, ocorrido em 5 de dezembro de 2023.

Os promotores revelaram que o crime meticulosamente planejado e executado por mais de dois meses antes da sua execução.  De acordo com os autos do inquérito policial, o crime teve início em novembro de 2023, quando Antonio Gomes da Silva, sob disfarce, aproximou-se de Zampieri com o falso pretexto de contratar seus serviços jurídicos.

Gomes, que se apresentou como capelão mancando e utilizando uma bengala, alegou estar interessado na compra de uma propriedade rural em nome de um sobrinho residente nos Estados Unidos. Apesar de ter fornecido seu nome verdadeiro e número de telefone real, ele fez questão de adotar uma persona fictícia, parte do plano para enganar a vítima.

A tentativa inicial de assassinato ocorreu durante uma visita agendada a uma propriedade rural, onde Gomes planejava matar Zampieri com uma marreta. No entanto, o plano fracassou quando o advogado enviou um amigo em seu lugar, frustrando o assassino. Em resposta ao fracasso, Gomes solicitou que seu comparsa, Hedilerson Barbosa, providenciasse uma arma de fogo para garantir o êxito do plano.

Na noite do crime, em 5 de dezembro de 2023, Zampieri foi surpreendido por Gomes ao sair de seu escritório de advocacia e entrar em seu veículo. Gomes, que estava à espreita, disparou diversos tiros contra o advogado, utilizando uma pistola Taurus 9mm, resultando na morte imediata de Zampieri por choque hipovolêmico devido aos ferimentos perfuro-contundentes.

Os promotores destacam que o assassinato foi realizado de maneira rápida e evasiva, dificultando qualquer chance de defesa por parte da vítima. Além disso, a arma utilizada no crime, uma pistola de uso restrito, foi posteriormente apreendida e confirmada como a mesma que havia sido entregue por Barbosa a Gomes no dia do assassinato.

A perícia balística realizada durante as investigações corroborou essa evidência, conectando de forma incontestável a arma aos projéteis encontrados na cena do crime. O contrato para o assassinato foi estabelecido por Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, que ofereceu R$ 40 mil a Antonio Gomes, dos quais R$ 20 mil foram pagos como adiantamento.

A denúncia aponta que Caçadini não tinha uma relação direta com a vítima, mas foi contratado pelo fazendeiro Aníbal Laurindo, recrutando cúmplices para a execução do plano.

As investigações revelaram que o planejamento do crime se estendeu por pelo menos três meses. Um dos elementos cruciais foi a descoberta de uma imagem da fachada do escritório de Zampieri armazenada no celular de Caçadini desde outubro de 2023, evidência que reforça o planejamento pré-meditado do crime.
 
Em sua manifestação, o Ministério Público argumentou que a materialidade do delito e a autoria dos acusados foram comprovadas de forma indiscutível pelas provas reunidas durante as investigações.

A instituição requer a pronúncia dos réus Antonio Gomes da Silva, Hedilerson Fialho Martins Barbosa e Etevaldo Luiz Caçadini de Vargas, pelos crimes de homicídio triplamente qualificado, cometido mediante paga e promessa de recompensa, recurso que dificultou a defesa da vítima e o emprego de arma de fogo de uso restrito.

Memoriai de Hedilerson

A dupla de juristas, Neyman e Nilton, também representa a defesa do veterano do Exército e instrutor de tiro Hedilerson Fialho Martins Barbosa, acusado pelo Ministério Público de intermediar a execução, por ser o proprietário da arma usada no assassinato.  

A estratégia dos advogados nos memoriais em favor de Hedilerson está amparada no fato de que ele foi incriminado por meio de interrogatórios nulos, bem como sustentam que não há indícios suficientes da sua participação direta no assassinato, de modo que ele deve ser impronunciado.

Além disso, a principal tese é embasada no depoimento do executor do crime, Antônio Gomes da Silva. Em sede de interrogatório, Antônio livrou Hedilerson.

O algoz disse que o instrutor de tiro é seu conhecido hálongo tempo, e que veio para Cuiabá por motivos alheios à execução. Eles ficaram hospedados no mesmo hotel. Hedilerson chegou um dia antes da execução e Antônio disse que pegou a arma dele escondido, enquanto ele tomava banho.

Com base nisso, os advogados alegam que não existem indícios mínimos de que Hedilerson tenha participado do crime, embora ele tenha vindo para Cuiabá após a primeira tentativa de Antônio em matar Zampieri ter falhado, terem se hospedado no mesmo hotel e apesar de que a arma usada na execução seja de sua propriedade.

“Desse modo, mediante o que foi exposto acima, percebe-se que não há indícios mínimos de informação para fundamentar a decisão de pronúncia”, sustentaram Neyman e Nilton.
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